terça-feira, janeiro 02, 2007

Pedradas


Ontem, depois das pedradas a fazer um estrondo enorme no telhado da casa, aparece o G. em correria desenfreada avisando-me de que haviam partido os vidros da casa dos empregados.
A conversa desenrola-se de dentro do muro para a rua. Não lhe via a cara e apenas ouvia a voz de um jovem irado contra os três jovens que, do alto do muro, lhe vão explicando que apenas querem trabalhar e não fizeram mal a ninguém.
Subo a um escadote e utilizo a mesma linguagem em resposta aos argumentos do jovem irado de um grupo de cinco mais calmos que nem intervêm na conversa. O jovem, bem constituído, braços tatuados, tronco nu, estava visivelmente alterado e transmitia raiva. Pareceria daquelas pessoas que querem vingar-se do Mundo inteiro!
- O meu pai fundou esta cidade. Já cá estou há muito tempo. Sou timorense. Sou desta terra.
- Olha, amigo, antes de nasceres já eu cá estava. E antes do teu pai, já os meus pais cá viviam. E também sou timorense.
- Pois, mas eu sou daqui e vocês não dão trabalho aos jovens do bairro. Só empregam pessoal da Fazenda.
- Sabes, amigo, eu também sou daqui. Mas, se queres emprego, fica a saber que não posso substituir-me ao Estado. Para além de que dou emprego a quem eu quiser.
Atiro-lhe ainda a vergonha que é criar tantos problemas quando ainda agora ascendemos à independência e aviso-o de que vou chamar a polícia.
- Chama a polícia, chama... Olha, eu chamo-me Manecas.
O grupo pede-me que não lhe ligue e arrasta-o para o bairro junto das bananeiras colado ao sopé da montanha.
Antes, porém, o dito Manecas ainda tem tempo para elucidar que é Colimau de Laga… Não é difícil perceber que está a tentar criar confusão: é que não rima a bota com a perdigota porque os Colimau são de Loromonu e Laga fica a Lorosae…
Antes de iniciar a conversa, ligo para a GNR que não tem a responsabilidade da segurança deste bairro, que me manda ligar para o 112 que não atende. Um helicóptero sobrevoa a nossa casa. Longos minutos depois, nova chamada para o 112 que continua a não atender. Ligo para o comando da polícia, para o 7230365, e surge outro interlocutor que fala tétum a quem explico o que aconteceu.
Entretanto, já o jovem e o seu grupo se haviam esfumado debaixo das bananeiras…
Agora que já passaram umas quantas horas sobre o sucedido, reflicto sobre a insegurança, o desemprego, o ódio, a violência e a falta de objectivos na vida que estão na base de tudo isto. Só isso justifica a intervenção intempestiva do jovem Manecas Colimau-Laga.
Vou tentar manter a serenidade. Até porque ainda me sinto animada do espírito do dia de Ano Bom e quero manter a esperança de que 2007 vai ser diferente…

PS: A Polícia já cá esteve a inteirar-se do que aconteceu e o pessoal do bairro diz que o jovem conflituoso deu às de vila diogo...

1 comentário:

Heiabelha disse...

Não quero deixar passar o desejo de um bom ano novo. Espero que 2007 traga mais oportunidades em Timor. Quem sabe? Haja esperança e fé em Deus. Um beijo deste lado do mundo.