sábado, dezembro 22, 2012



Soneto de Natal

Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
Machado de Assis

quarta-feira, novembro 07, 2012


Eu era uma jovem quando ela nasceu pequenina, moreninha, linda! Eu achava-a linda!Sempre a achei linda!A minha  filhota cresceu e partiu um dia.  Faria hoje 42 anos. 
Recordo-a todos os dias. Sinto ainda hoje o calor do seu abraço,o gosto do seu beijinho. Não esqueci a sua voz. Tenho imensas saudades dela. Não a vejo mas sinto que me acompanha.Não a esqueço e amá-la-ei sempre, como se estivesse aqui ao meu lado.  Onde ela paira, certamente receberá o meu beijo. E sentirá a minha profunda e, ao mesmo tempo, doce saudade. Até sempre, queria Sandra.

quarta-feira, outubro 31, 2012

Uma flor pelos meus que se foram e me deixaram imensas saudades.
Sandra, Sempre no meu coração.

sábado, junho 02, 2012

Lá, do outro de um Mundo que ainda não conheço, está a minha filha Sandra Sofia.
Nesta época do ano, a saudade agudiza...

sábado, maio 19, 2012

Só!

Só!
Sem lágrima
sem riso
sem voz,
mulher dolorida
a vida desfeita
 estuprada
na mata
pariste teu filho.
Da mata o levaram
 em noite escura
se perdeu teu filho.
Envolto nas brumas
o corpo frio
 destroçado
 à vala se deu! (Díli, 2012)

sábado, março 24, 2012

Até sempre, João!



Há dias, em conversa nesta varanda, o João olhava as montanhas, falávamos da vida e da morte, dizendo-lhe eu que ninguém morre quando quer. Morremos quando tiver de ser e quando Deus quer.
Acredito que ainda pairas por aqui antes de seguir o teu caminho para a Eternidade e me estás a ouvir, daí que me dirija a ti.
João, deixaste-nos de surpresa. À tua maneira, rodeado de muita família, entre os teus de sangue e os que foste fazendo ao longo da vida, os teus amigos. Mas, ainda que não tivesse sido de surpresa, a tua partida seria sentida como agora: destroçando-nos, partindo-nos, deixando-nos perdidos. Sim, eu imagino que partiste de bem com a vida, depois de uma festa onde estavam muitas pessoas da tua família de sangue e amigos desde sempre!
Não sei se querias partir agora ou se pressentias que o teu coração não iria aguentar a emoção de ver a família reunida vinda dos quatro quantos do Mundo para a celebração do 80º aniversário da mana Maria. Mas partiste. De madrugada. E nós estamos quase todos aqui. Contigo.
Foste sempre, querido João, o esteio de todos nós, da família no seu oriental conceito de abrangência. Contigo, João, aprendemos que a família está sempre presente, a amizade é um valor inestimável, os problemas devem ser sempre resolvidos pela via da conciliação. O valor da amizade deixaste-o bem impresso no quadro da vida ao manteres a tua velha amizade de dezenas de anos com o Mari Alkatiri, mesmo que te criticassem ou que tal parecesse politicamente incorrecto. Não admira assim que o Mari me tenha dito que eras um amigo ímpar!
Foi contigo, João, que aprendemos a importância de valores como a tolerância. Soubeste ser tolerante mesmo quando foste maltratado, ainda quando injustamente te espezinharam na tua dignidade e assim nos deste o exemplo da importância do perdão. Seguiste as palavras de Jesus Cristo “Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem!”
Nesta hora, querido irmão, lembro-me de quantas vezes foste injustiçado, incompreendido, insultado! Não obstante, seguiste em frente defendendo as tuas ideias, as tuas convicções!
Apesar de tão vilmente tratado pelo Estado que ajudaste a erigir pela tua intervenção na Resistência como foi quando te retiraram da  casa  construída sobre os escombros de 1999, tu mantiveste a calma e não respondeste com a violência! Se bem te recordas, João, tinhas vindo por uns dias de Seul onde exercias o cargo de Embaixador da República de Timor-Leste  e estavas justamente a fazer uma das quatro sessões diárias de diálise. Eu vi-os chegar a tua casa, os diligentes funcionários da Direcção de Terras e Propriedades acompanhados por alguns situados jornalistas. Não te deram tempo para explicações nem mesmo foram sensíveis ao teu estado de saúde. E, contudo, João, se te zangaste, fizeste-o para dentro de ti... ninguém deu por nada! E porque tu, João, me deste mais uma lição da grandeza do teu coração, não vou ensombrar o teu caminho.
Tiveste uma vida política que te trouxe muitas mágoas e algumas alegrias.
Foste líder da UDT que te amou, te respeitou pelo teu imenso saber, pela tua determinação, pela tua convicção. E valeu a pena, em nome desse partido, teres defendido Timor mesmo quando os teus bolsos e de alguns teus companheiros da Resistência estavam vazios e não sabiam como pagar as vossas contas no estrangeiro... lembro-me bem de uma vez em que ias para Nova Iorque com onze dólares no bolso. (Ah, João, se nós fôssemos contar essas histórias, as dificuldades por que  passaste, tu, a Rosinha, a Sandra João e o João Miguel! Se pudéssmos contar todas as histórias que revelam a grandeza do teu carácter, a tua generosidade, a bondade desse coração imenso, do tamanho do Mundo! Ah!, João, como me orgulho ouvir a quem quer que seja dizer-me que tanto estavas bem na mesa do rico como do pobre!)
 Lembro-me que, ainda em Nova Iorque, pernoitaste num sítio escuso cobrindo-te numa noite enregelada com um edredon velho e roto.
Lembro-me que, quando se deu o massacre de Santa Cruz, a Resistência em Sidney organizou uma manifestação de protesto, tu estavas hospitalizado e  “fugiste” do hospital porque tinhas de estar presente! E ainda não esqueci que ficaste meses sem telefone porque não tinhas dinheiro para pagar a conta. Aceitavas todas as chamadas “reverse charge” do interior da Pátria. Lembras-te João?
Mas, apesar de todas as injustiças, as aleivosias de que foste alvo, de todas as dificuldades, valeu a pena! Porque Timor é independente e, inquestionavelmente, tu estás ligado a essa independência! Porque ainda antes de 1974 já tu defendias a independência!
Timor, os seus cheiros, as suas histórias, os verdes da montanha, o azul do mar, os pássaros que só ouvias na Fazenda, Timor e as suas gentes, Timor e o seu destino, Timor, Timor, Timor!,  preenchiam-te a vida. Por Timor, tu fazias tudo! Sofreste, ouviste tanta vez chamar-te nomes de que hoje não quero recordar-me porque não quero ensombrar o teu caminho para a Eternidade, trabalhaste na limpeza de armazéns...  Fizeste o teu caminho! A direito!
Vamos deixar-te descansar na Fazenda Algarve, terra onde nasceste e onde procuravas refúgio e, quiçá!, conforto nos maus momentos da Vida. Jamais as crianças virão para a estrada gritando pelo “ Avô rabuçado”; jamais juntarás à tua volta os teus amigos da fazenda para lhes proporcionares conversa, aprenderes e contares histórias e todos rirem; jamais andarás por essas estradas de Deus partilhando o que contigo levasses; jamais nos telefonarás desafiando-nos a qualquer hora para um café, dois dedos de conversa, um caldo... Para estarmos juntos!
Sinto alguma culpa por não te ter ido ver sempre que me telefonaste. Eu a tentar justificar-me com as minhas obrigações  e tu a dizeres-me sempre no fim que “ está bem!” E, a propósito, lembro-me que ouvi o nosso irmão Mário dizer a um jornalista que perdemos um irmão que não sabia zangar-se!
Penso agora que tu sabias que ias partir e por isso tinhas tanta ânsia em falar, ouvir e contar-nos coisas, os teus sonhos – sim, João, como tu ainda dedicavas tanto tempo aos sonhos! – mostrar o desenho da casa que ias construir para ti e para a Rosinha...
Sabes, João, tudo isso foi ainda há pouco...
Ainda agora te foste e já dizemos que nos fazes falta! Quando parte um irmão, vai um pedaço de nós e a nossa alma chora!
Talvez que a razão de teres partido tão cedo tenha sido porque Deus tenha guardado para ti outra tarefa no céu. O que sabemos, querido João, é que estarás sempre presente nos nossos corações. Foste um bom amigo. Foste bom pai, excelente marido, avô extremoso, tio carinhoso. Amaste todos os teus irmãos. Nenhum de nós esquecerá a tua bondade, o teu carinho, a tua imensa coragem, a tua determinação, a tua humildade. Tivemos o privilégio de estar contigo. Temos o imenso orgulho de termos partilhado muitos momentos da vida contigo, com um Homem como  as pessoas gostam de dizer: um Homem com H grande! Foste um Homem como há poucos, João! Até sempre!

 PS. Li este texto na Missa de corpo presente do João no dia 20 de Fevereiro.
Sentimos a tua falta, querido irmão!