domingo, dezembro 31, 2006

Bom Ano de 2007!


Fim de mais um ano. Triste, por sinal.
O meu país timorense está em crise. crise de valores, falta de segurança, loucura, desvairo colectivo. Assim vai Timor…
O meu país português, dizem-me os amigos de Portugal, também está em crise. Económica mas, da mesma forma, crise.
O Mundo em crise está.
Com esse triste cenário só nos resta fazer de conta que a vida é uma mar de rosas! Pelo menos de vez em quando… Ainda no ano passado, por estas horas, já eu me preparava para o fim do ano no Sporting onde havia festa animada com conjunto do Chico Mau Loi, o cantor, e do Armando, violinista e também cantor. Juntávamos um bom grupo de amigos e divertíamo-nos até às tantas.
Embora as festas de agora não tenham o mesmo brilho das de antigamente sempre me transportam às minhas memórias de outrora, quando as festas eram autênticas festas daquelas em que toda a gente se vestia a rigor, com fatiota nova feita na modista mais “in” cá do burgo… Havia uma competitividade saudável entre o grupo do Benfica e o do Sporting, com cada um deles, homens e mulheres, dando o seu melhor para que a festa do seu clube levasse o outro de vencida.
Eu ia sempre às festas do Benfica e só assim poderia ser, uma vez que na minha família somos todos benfiquistas. Todos, não, a minha irmã Maria é sportinguista! E os meus sobrinhos, filhos das minhas irmãs, cujos pais são de outros clubes, também são dos clubes dos paizinhos.
Dançávamos até às tantas da madrugada e, de cada vez que víamos o nosso pai olhar para o relógio, sofríamos a sério porque já sabíamos que chegada a hora limite por ele estipulada, não havia apelo nem agravo e tínhamos mesmo de voltar para casa! E procurávamos que a nossa distinta mãe estivesse bem distraída porque também já sabíamos que se lhe apetecesse voltar para casa, nem que a festa estivesse muito animada, era só ela, a mamã, manifestar a sua vontade e lá íamos nós, que o papá nem pensava duas vezes…
Este ano, o de 2006, nada de festas. Eu e o João vamos ficar sossegadinhos, no remanso do nosso lar da aldeia 30 de Agosto. Acho que vou pôr a girar um CD com música própria para dançar, bailaremos os dois ao ritmo do tango, rumba ou slow e à meia-noite comeremos as passas. Não, não vai haver champanhe que o tempo não está para essas modas…
E lembrar-me-ei então de todos quantos fazem parte da minha Vida. Dos que partiram deste Mundo e dos que ficaram. Da minha filha, sempre!
Da família toda ela espalhada por esse Mundo de Deus por onde também andam os meus amigos! E para todos aqui vai o meu desejo de que o ano de 2007 seja portador de tudo o que de bom cada um entenda ser o melhor para a sua Vida!
E, claro, que Deus guarde Timor e a paz e a concórdia voltem depressa!
Bom Ano de 2007!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Calor!


Estamos na época das chuvas mas praticamente não tem chovido e o calor aperta a qualquer hora do dia. Aliada ao calor, a humidade traz-nos sempre encharcados em suor. Uns minutos depois do banho e o corpo volta a estar ensopado do malfadado, ainda que saudável, suor! Eu bem sei que é saudável suar, que a humidade faz bem à pele, mas isso não chega para me pôr de cara alegre.
Quando, em 2002 voltei para Timor, divertia-me quando via
alguém munido de toalhinha pequenina retirada do bolso ou da mala para secar a cara alagada em suor. Achava piroso. Mas, na vida é assim, não convém gozar! Hoje, também eu ando de toalhinha perfumada às costas, sempre pronta a entrar em acção. Por exemplo, sempre que vou cumprimentar alguém e tenho de receber o beijinho na face, nem quero imaginar que alguém se sinta desagradado ou enojado quando me cumprimenta e tem de sentir a pela encharcada. É desagradável, convenhamos… As pessoas não são obrigadas a gostar do sabor salgado do suor, não é?
Ao
calor e da humidade, junta-se-lhes amiúde a falta de energia eléctrica. Como anteontem, aí pelas 7 horas da noite. Duas horas sem energia! Nem pude ver a telenovela!
Com o gerador avariado, não tivemos outro remédio senão ir para a varanda, munidos de “arma” contra mosquitos. A “arma” de que falo é uma raquete que liberta electricidade e desferida contra os insectos os faz ir desta para melhor instantaneamente!
De alguns, safo-me! Do que não me safei foi de uma neura tremenda, tão grande que me deu uma terrível enxaqueca.
Depois de escrever este pedaço, senti-me bem! De repente percebi que, para escrever sobre o calor, a humidade e os mosquitos, só mesmo porque sinto alguma tranquilidade… É bom que ainda haja dias assim em Timor-Leste!


terça-feira, dezembro 26, 2006

Alô, Alô, Alentejo!

Ainda há dias aqui referi que este tempo de Natal me deixa sempre angustiada e com saudades. De tudo e de todos.
Fui ver as minhas mensagens e dei com a mensagem da Mila, uma das minhas amigas do Alentejo. De imediato me vieram à memória recordações de muitas conversas tidas em casa da Matilde – outra amiga de sempre do Alentejo, de Amoreiras-Gare – à lareira ou à mesa, sempre farta de iguarias várias, qual delas a melhor e a contribuir para o aumento imediato de peso …
A Matilde é a mãe do Ricardo que é casado com a Christiane de quem tem duas filhotas lindas. Conheci a Matilde há bem mais de 30 anos, quando o marido, o Humberto, nosso “compadre alentejano” (que prestou serviço militar nos anos 60 em Timor) ainda era vivo.
E através do Humberto e da Matilde, ficámos a conhecer os irmãos da Matilde. De entre estes, o Luís, marido da Mila e amigo de patuscadas com quem eu e o João aprendemos a apanhar mexilhões numa praia próximo da Zambujeira. Ah, claro, estava a esquecer-me da tia Silvina que era ainda mais gulosa que eu!
Passados anos e porque Portugal é mesmo um país pequeno, quis o destino que o Miguel, filho da Mila e do Luís, fosse trabalhar no Público, tendo sido meu colega…
Quando vivíamos em Lisboa, todos os anos íamos às Amoreiras e à Zambujeira do Mar. Muitos quilos engordei à conta dos doces da Matilde (ai que saudades do pão de rala!), do presunto, das linguiças, do paio, do queijo do pão alentejano, tudo caseiro como convém! E do óptimo ensopado de borrego da Mila! Enfim coisas de comer e chorar por mais! Costumo dizer que engordava um quilo por dia! Direi mesmo que, com a lembrança, até já me sinto a inchar!
Em dias como estes, recorda-se sempre com mais saudade o que de bom há nas nossas vidas. Os dias que, durante anos, passei nas Amoreiras e na Zambujeira do Mar fazem parte desses pedaços bons da minha vida.
Sinto-me bafejada pela sorte, por ter conseguido reunir - do lado de lá do Mundo e ao longo dos 32 anos que vivi em Portugal - um bom grupo de amigos de entre os quais se contam a Matilde e a sua família do Alentejo, para quem vai um abraço do tamanho do Mundo!
Alô, Alô, Alentejo! Timor chamando! Timor abraçando…

sábado, dezembro 23, 2006

Feliz Natal!




"Quero o Natal no coração,
multiplicando amor,
presente maior que posso ter... "

De; L. Amorim


sexta-feira, dezembro 22, 2006

Tempo de Natal!


Não se nota muito nas ruas, é verdade, mas paira no ar um certo clima.
É o Natal a chegar!
Nestes dias, deixo-me sempre vencer por uma certa angústia. É a lembrança da minha filha, são as recordações de outros natais felizes com a presença dos meus pais, de todos os irmãos, são saudades dos amigos, nostalgia, enfim!
Tempo de Natal é, tem de ser, deve ser tempo de paz! Vou, pois fazer figas para que a paz que o Natal nos possa trazer perdure em Timor-Leste, para que os homens interiorizem o valor da Paz e se deixem de violência!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Idade real


Sem complexos de idade, gosto de dizer que tenho o espírito jovem... mas esse só eu o sinto... Já não aguento estar muito sentada como a jovem da fotografia e isso é sintomático de que já não sou nenhuma jovem. A idade não perdoa, não é, Anabela?
Aprendi com os meus irmãos mais velhos a envelhecer naturalmente. Eles continuam bem dispostos, apesar das mazelas normais da idade.
Quando se tem vinte anos, perde-se a noite e continua-se fresca como uma alface - apetece-me perguntar à Leonor e à Ana Cardoso Pires se ainda dançam pela noite fora sempre mantendo a mesma frescura -, dorme-se o dia todo e o corpo não se ressente, come-se uma feijoada ao jantar sem pensar na digestão difícil, anda-se de salto alto de dez centrímetros e a coluna mantém-se direita, bebem-se dez ou mais cafés por dia sem pensar na tensão arterial, a carne de porco entremeada é óptima e não há colesterol a estragar-nos o apetite...
Há três anos quando parti o pé em virtude de o ter colocado mal (quero dizer, não vi o buraco na rua...), percebi que só tinha mesmo o espírito jovem.
O segurança levantou-me do chão onde me estatelara ao comprido e, em resposta a alguém que lhe perguntou o que tinha acontecido disse "ferik monu", ou seja, a velha caiu...A velha era eu!!!
Ontem, cumprimentei alguém na rua e eis que veio rápido o cumprimento " Boa tarde, mãe!" isto, já para não falar de como sou avó de gente cinco a dez anos mais nova que eu. Já vou com sorte quando se ficam pelo respeitoso tia ou mana... Então sinto-me quase uma rapariga!
Há dias o Carlos Pessoa enviou-me as boas festas chamando-me rapariga! Como me senti leve... de espírito, porque o físico continua pesado a acompanhar a idade real...
Um dia, dizia uma senhora com 90 anos: ainda hoje sinto o pé a puxar-me para a dança. O problema é que o corpo já não aguenta. Mas a cabeça, oh, aí eu ainda danço como quando tinha vinte anos!
Enquanto escrevo, as memórias surgem em catadupa e recordo que, uma vez, em conversa de café com as minhas amigas de Lisboa ,falávamos sobre a terceira idade, o respeito que nos merecem os idosos, os problemas e a falta de atenção de que bastas vezes são alvo.
Uma das coisas que comentei é que sabia que, se continuasse em Lisboa, um dia teria de ir para um lar da terceira idade; aceitava a ideia com naturalidade. Só me fazia alguma confusão o cheiro a urina que paira no ar em muitos lares de terceira idade, de acordo com o que se lia e se via nos noticiários. A Ivone deu uma gargalhada e atirou-me de chofre "Oh, nessa altura nem vais dar pelo cheiro!"
Ri-me, retorci-me na cadeira de nervoso, pois claro!, e ainda hoje me questiono se irá ser mesmo assim? E como a ideia ainda me incomoda, registo, com agrado, que ainda vem longe a decrepitude!
Por outro lado, agora que vivo em Timor, apraz-me registar o cuidado e o respeito com que se tratam os idosos da família. Aqui não há lares de teceira idade e os mais novos cuidam naturalmente dos mais velhos.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Timor


Vivo num país de sonho. Belo, exótico, diferente. Como se vê nesta foto do Hélder Encarnação, meu sobrinho por afinidade, casado com a minha sobrinha Tininha.
Às vezes tenho de “puxar” ao sentimento, lembrar-me de como Timor é bonito e de recorrer outras tantas vezes, às minhas memórias de infância feliz para me esquecer que os dias se desenrolam tristes, loucos, violentos
...

domingo, dezembro 17, 2006

Carinho


A minha irmã Maria foi operada ao coração pela terceira vez. Estávamos todos com o credo na boca, mas a minha irmã dá-nos sempre - a todos, irmãos, filhos e netos - uma lição com a forma tranquila com que reage a situações graves. Para ela, o inevitável deve ser encarado com naturalidade.
Ao pé da mana Maria, como nós, os mais novos a tratamos quando não recorremos a outro modo mais informal e igualmente carinhoso chamando-lhe velhota Mary, ninguém se sente à vontade para se queixar de uma dor de cabeça. Pois se ela, raramente se queixa das suas graves mazelas, nem mesmo quando tem mais do um ataque de angina de peito num dia!
Hoje de manhã enviei uma mensagem à minha irmã Alice que está a acompanhá-la no hospital em Adelaide e, depois de saber que lhe foi posta nova válvula – desta vez de boi em vez de porco - fui surpreendida por um telefonema. Fraquinha, muito fraquinha, a voz da minha irmã Maris encheu-me de alegria e de comoção! Nem se imagina quanta!
O meu irmão Manuel fez ontem anos! Não houve jantar de aniversário como nos anos anteriores - a crise, sempre a crise e o medo das consequências da crise… - mas houve lanche para festejar os 73 anos do velhote Manuel e, claro desejando todos que o dia 16 se repita por muitos mais anos!
A minha irmã Mary é a mais velha da família. Antes dela, tínhamos a mana Dora que faleceu em Lisboa, no vale do Jamor, era ainda muito nova, com 50 anos. Enfer
Os manos Mary e Manuel são os mais velhos e, por isso, os tratamos com tanto carinho a que não falta também imenso respeito, igual, aliás, ao que nutrimos pela mana Lila ou Ermy, ou Ermelinda – vários nomes para uma só pessoa! -, que também está bastante doente e festejou mais um aniversário - 71 anos! - no passado dia 13.
Os meus três irmãos mais velhos são um bocado como se fossem meus pais. Têm idade para isso…
Aos meus três irmãos mais velhos, um grande beijinho. Com todo o carinho do Mundo! E o símbolo de tanto carinho só pode mesmo ser uma foto da nossa casa da Fazenda Algarve. Ali, tods nós,
os doze irmãos, desde sempre soltámos a alma e ali respirámos ao ritmo da terra, porque dela fazemos parte… Ontem, como hoje. Como sempre!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

O dia devia ter 48 horas...


Pois é, o dia devia ter 48 horas e eu devia ter 24 anos. Digo isto porque não tenho muito tempo livre, não consigo fazer tudo quanto quero e, por isso, tenho falhado os posts aqui no Outro lado do Mundo.
Depois de um tempo a trabalhar na TT de onde saí por razões tão tristes que, por enquanto, prefiro nem sequer recordar, fiquei uns tempos em casa.
Arranjei novo emprego e tenho de implementar um projecto de arquivo. Sou estudante do 1º ano de Direito e, logo, tenho de estudar muito, até porque, não tendo 24 anos, o tempo de interiorização das matérias é um bocado diferente... falta a frescura da juventude! Mas que me esforço muito e desse esforço tenho tido reconhecimento visivel nas notas, lá isso é verdade!
Com a minha irmã Natália e um amigo, abrimos um restaurante com comida portuguesa, quase toda ela.Dá-nos um trabalhão!
Gosto muito de trapos e resolvi, em conjunto com a minha irmã mais nova, ficar com uma loja que vamos baptizar de Maria´s, depois da Furak (fantástico/a), arte e decoração.
Para além disso, ainda escrevo para o blogue Timor 2006. E, todas as semanas tenho de debitar notícias para a SBS australiana, programa em língua portuguesa, porque sou a correspondente aqui em Timor. Ainda tenho de arranjar tempo para a minha actividade político/partidária, ao abrigo do artigo 46º da Constituição da RDTL, acumulando com o ser dona de casa, mulher do João, irmã, tia, prima e até avó emprestada!
Tinha já iniciado um livro mas esse ficou adormecido no computador até que eu o acorde numa bela e luminosa manhã em que me sinta não com 24 anos mas com 45... Já ficaria bem...
Então, não acham que tenho razão quando digo que o dia devia ter 48 horas e eu 24 anos?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Esperança


Tenho escrito menos para não cair na tentação de relatar sempre a mesma coisa, dando conta das frustrações originadas pelos mesmos problemas… Eles existem, não sabemos quando tudo voltará ao normal e eu achei por bem explicar-me porque a minha irmã mais nova, a Natália, me perguntou o porquê da minha ausência.
Estando esta explicada, daqui vos envio esta foto. O verde significa esperança e essa deve ser a última a morrer. Eu continuo esperançada que melhores dias virão. Que há-de chegar o dia em que eu possa de novo desafiar os amigos a virem a Timor, um dos últimos paraísos da terra.
Espero!

sexta-feira, dezembro 01, 2006

No dia mundial da luta contra a sida, um beijo para a minha filha Sandra Sofia. E a minha imensa saudade!