terça-feira, junho 19, 2007


…Quando a tristeza me invade, canto o fado
Se me atormenta a saudade, canto o fado…

Gosto de Fado mas não, não vou cantar o fado porque, se o fizesse, cairiam canivetes do céu!!!
Invadida por saudade profunda e sentida, dorida por avassaladora tristeza sem razão concreta, antes que me angustie ainda mais por não conseguir elevar aos céus o meu canto com vontade de espantar os meus males, faço o que sempre me obrigo fazer: necessária pausa.
Amanhã será outro dia e se a noite é escura e de breu apesar da lua e das estrelas, amanhã o sol voltará a nascer luminoso.
Boa conselheira, a noite far-me-á cantar para dentro de mim, dormir sobre a tristeza e espantar a saudade; amanhã, com certeza, acordarei mais solta, mais leve, a caminho da cura da minha alma hoje atormentada.

sábado, junho 16, 2007

Que pena o tempo não ser elástico!



Há muito, muito tempo que não ponho os pés na água morna de uma qualquer praia de Timor. A situação não ajuda e o tempo não dá para tudo...
Passei uma semana a estudar o que deveria ter estudado em três meses.
Senti-me mal, confesso. Porque estava consciente de que era capaz de fazer melhor, não fosse ter de me desdobrar em um sem número de actividades que me tiraram o tempo necessário para o estudo.
Não vale a pena esticar! O Tempo não é elástico! Pois não! Não tentei esticá-lo; mas tentei , numa semana , apreender tudo o que lia... não resultou em pleno mas ajudou e consegui! Passei. Intimamente fazendo o bom propósito de não voltar a repetir o que fiz.
No dia 10 de Setembro começam as aulas. Felizmente, só irá haver eleições daqui a quatro anos! Até lá, sobrar-me-á tempo para trabalhar, estudar e divertir-me. E pode até ser que a calma volte e eu possa ir dar um pé de dança com o João!

quarta-feira, junho 06, 2007

Não gosto muito de expor a minha família e menos ainda de falar dos meus pais que partiram desta Vida há muitos anos, porque não quero correr o risco de que surja alguma palavra desagradável contra eles e eu, que não vejo a cara de quem pode desferir a má palavra, não me sinto à vontade para responder enfrentando quem está, invisível, do lado de lá para os defender – como é, aliás, minha obrigação – a eles que já não fazem parte desta vida.
Mas, hoje, não resisto a fazê-lo.
Esta tarde, quando tive de dizer alguma coisa sobre a intervenção da mulher timorense na política e, de uma forma geral, na vida pública, não pude deixar de recordar a minha Mãe com justificado orgulho pelo exemplo que nos deixou, a todos, filhos e filhas!
A minha mãe era uma senhora. Impunha-se pelo porte altivo, normal nas mulheres de Leste. Dela guardo a imagem de mulher determinada, segura, calma, discreta e independente.
Gostei de poder recordar a sua assumida independência. Gostei muito, senti-me inundar de indisfarçável orgulho pelo facto de ela, a minha mãe nascida em Watalibu, Venilale, nunca ter tido necessidade de renunciar à sua cultura local, às suas raízes, só por ter casado com o meu pai, malai mutin do Algarve. Foi bom recordar o português muito peculiar que a minha mãe falava aprendido apenas quando foi viver com o meu pai.
Soube-me bem evocar os bons guisados e caldeiradas de cabrito que ela preparava como ninguém, aprendendo a arte da cozinha portuguesa com o meu pai, ao mesmo tempo que fazia as catupas, as cadacas, os batar daan à moda timorense…
Gostei de partilhar a história de ela ter tido 14 filhos, os mais velhos dos quais chegaram a este mundo com a ajuda do meu pai que assistia aos partos.
Soube-me bem, muito bem, dizer que a minha mãe tanto se sentia à vontade a tratar da sua horta onde trabalhava mano a mano com os empregados, como numa festa formal do palácio do governo onde as demais senhoras se admiravam que aquela mulher vinda de recônditas paragens de Timor soubesse acompanhar tão bem o meu pai!
Claro que as senhoras não podiam adivinhar que, entre o meu pai e a minha mãe, não havia a obrigatória submissão da mulher ao homem… os meus pais acompanhavam-se mutuamente, andavam lado a lado, tinham os mesmos direitos e as mesmas obrigações! Faziam uma excelente equipa e, por isso, nunca nos ocorreu, a nós, mulheres, pensarmos que éramos menos hierarquizadas na família relativamente aos meus irmãos apenas por sermos mulheres!
Pelo contrário. Desde sempre soubemos que éramos iguais, independentemente do sexo! Tivemos a mesma educação, as mesmas facilidades e iguais dificuldades, o mesmo carinho e, obviamente, éramos igualmente castigados.
Saí do encontro com o meu ego muito acarinhado mas, ao mesmo tempo, cheia de saudades dos meus velhos pais. Uma saudade imensa que perdura não só porque os filhos têm sempre saudades dos pais quando estes desaparecem mas também pela referência que são nas nossas vidas. Deixaram-nos um legado inestimável, princípios, ensinaram-nos a agir sempre com simplicidade, determinação e correcção, a sermos leais, honestos e humildes. A não termos medo de defender as nossas ideias, a não desistir, a respeitar o próximo como a nós mesmos, a sermos solidários!
E antes que uma lágrima que sinto a bailar nos olhos me venha dificultar a escrita, termino enviando para o além longínquo onde eu sei que ambos continuam estando atentos às nossas vidas um grande e saudoso beijo ao meu pai e à minha mãe! Melhor, um beijo ao papá e à mamã!