domingo, maio 27, 2007

Um dos sonhos da minha juventude era viver numa casa de Lospalos. Claro que não pensava sequer que era necessário ter ligeireza suficiente para subir e descer a escada sempre que fosse preciso.
Só me imaginava lá em cima, segura, olhando o Mundo, reflectindo, contemplando, sonhando! Tanta coisa que me passava pela cabeça!
Agora que “já sou velhinha”, - sim, eu sei, não preciso exagerar… - continuo a gostar de casas de Lospalos que acho belas, elegantes, altaneiras… mas fico-me por aí…
O pé já não é tão ligeiro e a balança está avariada, de certeza!, porque acusa uns muitos quilos a mais dos que eu tinha noutros tempos…
Hoje prefiro ter os pés bem assentes na terra, mas não deixei de contemplar, olhar o Mundo, reflectir… E o sonho? Claro que continuo a sonhar, faço-o acordada, vezes sem conta! Liberta de angústias, crio asas e vou voando por aí onde me leva o pensamento!

sexta-feira, maio 25, 2007



Não me lembro se já publiquei ou não esta foto. Mas, sendo ela ilustrativa de que é possível, em Timor-Leste, ser tão transparente como as límpidas águas do mar, presumo que ninguém se importará com a repetição...
Através desta foto também se percebe que há pé até bem longe da praia. Isto explica a razão pela qual nunca aprendi a nadar... O que também não abona nada em meu favor, reconheço, porque, mesmo garota, tinha obrigação de ver mais longe e saber da profundeza do mar...
Também posso arranjar outra explicação para o facto de não saber nadar. É uma desculpa esfarrapada mas deve dar para aliviar a minha frustração...
Então, é assim: recordando que o nosso pai não gostava muito que as meninas mais novas da sua extensa prole - Gabriela, eu e Natália - andássemos fora de casa por muito tempo, tínhamos de estar ao pé da praia de forma a ouvir quem nos viesse lembrar que eram horas de voltar para casa... Se eu soubesse nadar, ia para bem longe, não ouvia chamamento nenhum e arriscava-me a levar umas palmadas no rabiosque.
Claro que é mesmo uma explicação esfarrapada porque, mesmo estando por perto, às vezes fazíamo-nos surdas, mudas e cegas! Aconteceu um dia qe, mesmo estando sentadas no areal da praia de Lecidere, fizemos de conta que não víamos nem ouvíamos o pobre do Paulo que repetia vezes sem conta serem horas do almoço, etc, etc..,
Estávamos a conversar tão animadamente que não nos apetecia nada voltar para casa... Fizemo-nos desobedientes e convencemo-nos de que já éramos independentes; só voltámos quando nos apeteceu, sem nos preocuparmos sequer que havia uma família inteira que queria almoçar e não o podia fazer en quanto todos não estivessem à mesa.
Na varanda, a senhora nossa mãe estava sentada fazendo de conta que não era nada com ela. O nosso pai lia, ou fingia ler, o jornal, creio que o Diário Popular que chegava semanalmente de Portugal

Mal nos viu, retirou o relógio do pulso para não nos magoar... Percebemos o que ia acontecer e pusemo-nos a jeito. Nós, as três mais novas, perfilámo-nos e cada uma de nós levou à vez uma palmada no rabo!
Doeu, oh se doeu! Chorámos que nem Madalena arrependida!
Mas o nosso pai deve entretanto ter-se recordado dos seus arroubos da juventude e, como prova de que já tudo tinha passado, mal viu passar o António vendedor de gelados da casa Vitória, adoçou-nos a boca e refrescou-nos os ânimos com uns quantos gelados fresquinhos...

quarta-feira, maio 23, 2007


Cada timorense deve dizer com os seus botões: Não me sinto à deriva porque, tal como este beiro aparentemente esquecido num canto do porto esquecido de Com, tenho a sorte de ter Timor como meu porto de abrigo, apesar da loucura e da leviana e irresponsável atitude dos homens... "
Ai, Deus!

domingo, maio 20, 2007


Se a situação fosse de total tranquilidade, metia-me no carro e ia passar uns dias a à montanha, nesta casinha perdida por entre o verde da paisagem. Mas, quando menos se espera, surgem novos incidentes. E, por mais que se queira interiorizar que a situação vai melhorar, acontecimentos como os de hoje, em dia de festa nacional, fazem-nos pensar que o melhor é ficarmos quietinhos... não vá o diabo tecê-las...

quinta-feira, maio 17, 2007


Pose vaidosa de Dondoca, cadelinha cor de mel, delambida, conquistadora…
Lá mais atrás, os cães olham-na do canto do olho… qual deles conseguirá a atenção da delambida Dondoca?
Dondoca rebola, levanta-se, ensaia uma aproximação, percebe que “são muitos cães a uma cadela” e arrepende-se. Vira-lhes as costas, afasta-se e deixa o Liurai lambendo o Pé-de-Vento…
Tudo ficou bem e esquecido até que a Dondoca entrou de novo no cio.
E não houve pose, nem sedução, nem lambidela. Menos ainda fotografia.
Tanto cão! Selvagens! Dondoca assusta-se, foge, esconde-se debaixo da mesa. E os muitos cães a uma cadela, perdidos de desejo, frustradas as expectativas de macho melhor entre os melhores, ladram furiosamente, atacam-se, ferem-se, uivam de dor, assustam os cahorrinhos e metem o rabo entre as pernas quando, farta de tanto barulho, resolvo dar-lhes um banho de água bem fria para lhes esfriar os ânimos e fazê-los cair na real!
Caramba, até a cadelinha Dondoca precisa de elegância na investida!

segunda-feira, maio 14, 2007

Uma das três lagoas de Taci Tolu e a casa típica ao fundo que deu guarida ao Papa João Paulo II quando visitou Timor em Outubro de 1989.
Mais tarde, em 2002, foi neste espaço que se realizaram os festejos da independência.
Já no tempo da independência, ali se deu o “milagre” com intervenção de mão humana do “aparecimento” de Nossa Senhora…
Não sei se por uma se por outra razão, ou pelas duas razões – sem contar com o milagre que deixou de o ser uns dias depois da ocorrência -, Xanana Gusmão pretendia que aqui nascesse o jardim da paz.
Em seu lugar ainda só existem ervas daninhas que são o alimento dos cabritos que ali andam à solta, corridas de motos e pares de namorados.
A casa típica está deteriorada. E o marco com o nome de João Paulo II desapreceu.
Mas, enfim, há que ser generoso e procurar entender. Afinal, sem paz, não podia haver jardim do mesmo. Pode ser que seja agora…

domingo, maio 13, 2007

Tebe numa noite de luar



de MGabriela Carrascalão
Dili, Março de 2003

Loi Sa’e
é aparição
donzela
dengosa
Vaidosa!
o monte
desce
silhueta ondulante,
a lua ilumina
é convite para o amor!
O batuque grita

de ritmo marcante....
mais alto...
Loi Sa’e geme ...
o mancebo encanta
Dança !...
ao ritmo do batuque
Loi Sa’e, luz da lua
toda ela se mexe ,
é o eco do bamboleio
seu corpo serpenteando...
é som do roçar dos tais

xiu! xiu! assa xiu ! assa xiu!
Loi Sa’e, luz da lua
Dos suspiros em ais!
Loi Sa’e....
O mancebo desafia
dança seu corpo
serpente sensual...
seus seios acaricia ...
ao ritmo do batuque
Loi Sa’e!
À luz da lua
O mancebo espia
donzela
dengosa !
Tebe à luz do luar!

É noite para amar!....

PS: A minha irmã Maria Gabriela é uma excelente pintora e jornalista.
Há uma série de anos que anda a prometer tornar públicos os seus poemas. Será desta?
Em estreia mundial, aqui fica um dos quadros pintados em Timor em 2003 e um belo poema! Beijinhos para a minha mana pintora-poeta!

sábado, maio 05, 2007

O arco-íris cortando os céus será o prenúncio de que as coisas vão mudar em Timor? Será que vai voltar a paz, vamos ser todos felizes; será que as catanas, as flechas, as armas serão enterradas muito, muito lá no fundo, num buraco onde ninguém mais poderá chegar; será que vai haver trabalho para todos? Será que, vai acabar a discriminação e vamos sentir-nos todos cidadãos deste país? Será que os timorenses vão acordar e vão dar importância à unidade tão necessária para reconstruir Timor?
Estarei a sonhar demasiado cor-de-rosa? Estarei a ser ingénua?
Tenho para mim que vale a pena sonhar... vou continuar..
.

quarta-feira, maio 02, 2007



Um dos meus sonhos prende-se com a construção de uma casita típica em Venilale, a terra da minha mãe. Os campos são assim verdes... O clima é temperado, corre sempre uma brisa suave, fresca...
Em Venilale, no sítio de Waitalibu, todos falam, ainda hoje, do grande amor entre o meu pai e a minha mãe! Um amor sem barreiras de mais de cinquenta anos a que só a morte pôs fim...