quarta-feira, maio 31, 2006

Paciência de Pescador




O mar de Timor-leste é muito rico. E não só de petróleo. Também de peixe.
Este pescador conserta pacientemente as redes que lhe dão o sustento.
Que será feito deste homem?

domingo, maio 28, 2006

Dias cinzentos


Os dias continuam cinzentos. O fumo espesso das casas incendiadas encobre o céu de Díli.
Mas a tranquilidade das paisagens de Timor mantém-se inalterável. Como que a querer transmitir a qualquer um de nós que aqui vive, neste canto onde Deus plantou um paraíso, que vale a pena viver em paz e gozar este pedaço de céu ...
Vale a pena! Pelo futuro desta criança.

sábado, maio 27, 2006



Cinzento, pouco transparente, é a cor destes dias.
Mas a um dia segue-se outro.
É um lugar comum, mas assim como o sol se põe todos os dias, também nasce todos os dias. Enquanto há vida, há esperança!
Vamos confiar!

quinta-feira, maio 25, 2006

Inquietude


Povo inquieto. Respira-se inquietude
Os pássaros voam inquietos
Os cães ladram inquietos
E nós aguentamos inquietos
ai, Timor, que dor!

quarta-feira, maio 24, 2006

Desabafo



O dia está bonito. Luminoso. Com a chuvada de ontem, o ar está mais límpido.
O ambiente político é que está pouco transparente. Não há quietude.
Estamos todos de coração na boca à espera sabe-se lá bem de quê!
A apreensão tomou conta do povo.
O quartel foi atacado, não se passa para além da rotunda do aeroporto em direcção a Taci-Tolu e Tíbar.
Da varanda da minha casa avisto a colina onde antigamente havia uma casa, refúgio da minha mãe, aqui bem perto. E pergunto-me sistematicamente por que não conseguimos interiorizar dentro de cada um, nos nossos espíritos, na nossa vontade, a calma, a quietude da terra Timor?

terça-feira, maio 23, 2006

O que é uma microlet?


A Ana do Castelo pergunta-me o que é uma microlet. Pois foi, não expliquei.
Achei que estava a escrever para o meu pequeno Mundo de meia-ilha só...
Aqui, ensaia-se um novo linguajar, resultante das várias presenças estrangeiras.
Para além das duas línguas oficiais, o português e o tétum, temos duas línguas de trabalho, o inglês e o bahasa indonésio - até ver! - e, ainda mais de uma trintena de dialectos de lorosae a loromonu, de rai claran, de taci feto a taci mane ( de leste a oeste, do centro, do mar mulher ao mar homem), alguns dos quais caídos em desuso.
Bem, mas agora o que importa é explicar que bicho estranho será a microlet. Porque a Ana do castelo igigi explicasaun!
Assim, dentro da categoria dos autocarros, temos os bis, as microlets e as biskotas. O bis
tem um sentido mais geral, mais abrangente, a microlet é mais pequena, a biskota é bem maior. Todos têm quatro rodas, juro! E todos têm nomes próprios. O pai chama-lhes aleluia, unidade, irmãos unidos, assim mesmo, em bom português, escarrapachado no vidro dianteiro!
E também calha alguns terem uma aparelhagem sonora, leia-se barulhenta, com muita música em português do Brasil e ainda indonésio, para distrair os passageiros, seja nas viagens de 5 minutos, seja nas de 10, 11 horas...
Pintados de várias cores, bem vivas,grandes ou mais pequenos, estes autocarros andam sempre super carregados de gente, animais, muitos sacos, garrafões e percorrem o país por montes e vales, atravessando pontes. Quem os conduz, às vezes convence-se de que está a conduzir um Rolls Royce dando origem a acidentes.
Mas no meu novíssimo país, andamos um bocado ao sabor do vento; contamos mais com a atenção externa do que nos preocupamos em construirmos, nós, o que é nosso, porque continuamos convencidos de que um Ser superior não desvia o olhar deste povo e que, por isso, podemos permitir-nos ao luxo de tudo fazer, porque Ele, Deus, olha por nós. Problema é quando Deus desvia o olhar para outro canto mais problemático do que a nossa meia-ilha...
Espero ter esclarecido majemenus, outra novíssima versão do português "mais ou menos" dos jornais onde ainda não se igigi - alguém adivinha o que é que isto quer dizer? - que se fale e se escreva em bom português... Mas vale o esforço e isso é que é importante!
E agora, ala que se faz tarde, vou apanhar a microlet!

segunda-feira, maio 22, 2006

Lava-se a alma!


A acompanhar o clima político dos últimos dias, embora pareça que o tempo das chuvas se foi, o tempo na cidade continua quente.
Para fugir ao calor, nada melhor do que partir em direcção à montanha. ( pois é, a montanha é sempre um refúgio privilegiado...)
Na montanha toma-se o pulso ao país profundo pelo riso das crianças, pelo olhar interrogativo dos velhos, pelo vaivém dos que passam, indo daqui para ali e dali para cá - este é um povo andarilho e gosta de movimento! - pelas estradas serpenteantes, a pé, de moto ou de microlet.

Ali, na montanha, os deuses velam por nós. Uma gruta, morada dos deuses serpentes, uma pedra, uma árvore centenária, um ruído, a forma da nuvem que passa, tudo são deuses que velam pela nossa vida!
Ali soltamos a alma!
Ali cantam passarinhos que não existem na cidade, canta o galo num corococó a desoras, os loricos e os corvos, atrevidamente, aproximam-se o suficiente como que a marcar território do alto das madres-del-cacau que rodeiam a casa e dão sombra ao café, aqui e ali um cavalo pasta em sossego... o vento traz para bem perto o ruído de uma serra a cortar madeira no monte em frente e até as cigarras fazem visita zumbindo em colectivo antes da chuva...
Borboletas de todas as cores... Flores de tantas cores! Uma delas, apresenta-se branca ao amanhecer e à tarde, com o sol, muda de cor, passa a rosa.

A montanha é um espectáculo de luz e cor, de sol e sombra...
O sorvo do café aromático de laco – um dia contarei a história do café laco - leva-nos a recordações distantes. É o tempo de lembranças. De um passado longínquo marcado pela ausência dos que criaram o nosso último reduto. Partiram e, no entanto, permanecem bem presentes em cada canto, em cada história que recontamos, que repisamos muitas vezes quase com as mesmas palavras, as mesmas pausas, os mesmos silêncios.
Tão depressa que mal se dá pela sua chegada, a chuva cai forte durante uma hora deixando-nos extasiados.. E o tempo volta a serenar.... choveu uma hora apenas, o tempo suficiente para nos consciencializarmos da pequenez humana perante a força da mãe natureza…
Na montanha, ouve-se o silêncio, espraia-se o olhar, contempla-se a paisagem, medita-se, reflecte-se sobre a dificuldade em que a vida se transforma (por todos, nós, será?) e, decididamente, lava-se a alma!
Cai a tarde. O homem da montanha embrulha-se na lipa e acende o fogo. Faz frio.
Mítica, poderosa, fascinante montanha! Guardas segredos, pareces distante, mas estás sempre à nossa espera. Imutável!



sábado, maio 20, 2006

Cores e Vida


Gosto do azul. Transmite paz, tranquilidade.
Azul claro, azul escuro, esverdeado... Gosto da mistura, aprecio o conjunto que resulta das várias tonalidades.
Gosto de mudança.
Aqui, no tempo das chuvas, o verde mistura-se com o azul. Até nos esquecemos do calor que nos abrasa até a alma!
Quando chega o tempo da seca, menos quente, o castanho claro-escuro toma conta da paisagem.
Este lado do Mundo é pródigo em tonalidades.
Muda a paisagem, transformam-se as cores mas Timor continua...
Olhando para esta paisagem, pergunto-me como é possível que nós, timorenses, nos esqueçamos da paz e da tranquilidade que ela nos devia transmitir, sempre, e nos deixemos levar por arroubos momentâneos e perigosos que quase deitam a perder a construção do nosso país cujo futuro está nas nossas mãos.

quarta-feira, maio 17, 2006


O outro lado do mundo é um espaço aberto, janela escancarada para o mundo que se adivinha para lá do mar azul que se espraia ao longe, feito de palavras, de ideias e também de imagens, belas, diferentes, exóticas como o país de onde escrevo.