segunda-feira, maio 22, 2006

Lava-se a alma!


A acompanhar o clima político dos últimos dias, embora pareça que o tempo das chuvas se foi, o tempo na cidade continua quente.
Para fugir ao calor, nada melhor do que partir em direcção à montanha. ( pois é, a montanha é sempre um refúgio privilegiado...)
Na montanha toma-se o pulso ao país profundo pelo riso das crianças, pelo olhar interrogativo dos velhos, pelo vaivém dos que passam, indo daqui para ali e dali para cá - este é um povo andarilho e gosta de movimento! - pelas estradas serpenteantes, a pé, de moto ou de microlet.

Ali, na montanha, os deuses velam por nós. Uma gruta, morada dos deuses serpentes, uma pedra, uma árvore centenária, um ruído, a forma da nuvem que passa, tudo são deuses que velam pela nossa vida!
Ali soltamos a alma!
Ali cantam passarinhos que não existem na cidade, canta o galo num corococó a desoras, os loricos e os corvos, atrevidamente, aproximam-se o suficiente como que a marcar território do alto das madres-del-cacau que rodeiam a casa e dão sombra ao café, aqui e ali um cavalo pasta em sossego... o vento traz para bem perto o ruído de uma serra a cortar madeira no monte em frente e até as cigarras fazem visita zumbindo em colectivo antes da chuva...
Borboletas de todas as cores... Flores de tantas cores! Uma delas, apresenta-se branca ao amanhecer e à tarde, com o sol, muda de cor, passa a rosa.

A montanha é um espectáculo de luz e cor, de sol e sombra...
O sorvo do café aromático de laco – um dia contarei a história do café laco - leva-nos a recordações distantes. É o tempo de lembranças. De um passado longínquo marcado pela ausência dos que criaram o nosso último reduto. Partiram e, no entanto, permanecem bem presentes em cada canto, em cada história que recontamos, que repisamos muitas vezes quase com as mesmas palavras, as mesmas pausas, os mesmos silêncios.
Tão depressa que mal se dá pela sua chegada, a chuva cai forte durante uma hora deixando-nos extasiados.. E o tempo volta a serenar.... choveu uma hora apenas, o tempo suficiente para nos consciencializarmos da pequenez humana perante a força da mãe natureza…
Na montanha, ouve-se o silêncio, espraia-se o olhar, contempla-se a paisagem, medita-se, reflecte-se sobre a dificuldade em que a vida se transforma (por todos, nós, será?) e, decididamente, lava-se a alma!
Cai a tarde. O homem da montanha embrulha-se na lipa e acende o fogo. Faz frio.
Mítica, poderosa, fascinante montanha! Guardas segredos, pareces distante, mas estás sempre à nossa espera. Imutável!



1 comentário:

AnadoCastelo disse...

Essa nunca ouvi, ou neste caso, não vi. O que é o microlet?