segunda-feira, janeiro 08, 2007

Água de rosas da minha infância


De um grupo de doze irmãos (éramos 14, mas não conheci dois dos meus irmãos mais velhos que morreram pequeninos), sete raparigas e cinco rapazes, a Natália é a mais nova. Quando nasceu, já a minha mãe tinha 42 anos e o meu pai, 52, o que fazia dela mais filha-neta do que eu e a Gabriela.
A minha mãe enchia-a de mimo. Ela era uma menina, com muitas bonecas de porcelana, de cabelo loiro, enquanto eu e a Gabriela, mais arrapazadas, nos perdíamos com descobertas de ovos de cobras, duendes e almas do outro Mundo.
Um dia, era de manhã bem cedo, lá na Fazenda, na varanda, reparei que a Natalita chorava alto ao colo da minha mãe, com as pálpebras fechadas por força da ramela que não a deixava abrir os olhos.
Isto aconteceu há mais de 50 anos (caramba, estou mesmo feric!) mas nunca me esqueci do meu ataque de ciúmes. Quando percebi que a minha mãe lhe tentava abrir os olhos com um algodão embebido em água morna de uma tigela onde nadavam umas pétalas de rosa cor da dita cuja, eu, que estava um bocado afastada -e embora também fosse uma coisinha minúscula de três anos tinha os olhos bem abertos - pensei com os meus botões que não era justo que não tivesse acordado também com ramela!

1 comentário:

AnadoCastelo disse...

teloAh como é engraçado nos lembrarmos agora dos ciúmes de quando eramos crianças. Eu então desejava muitas vezes estar doente para a minha mãe poder ficar em casa comigo. O que será que as crianças de agora pensarão?
Um beijinho grande!