Não deveria ser assim mas acontece quando temos a cabeça tão cheia de dificuldades que nos fazem minúsculos, impotentes e, contudo, tão atormentados como se dependesse só de nós o salvamento da Nação!
Nessas alturas, é impossível serenar o suficiente para escrever algumas linhas com substância.
Só nos ocorrem factos, coisas, ditos e rumores desagradáveis sobre a situação de crise - essa palavra na moda que tende a não desaparecer senão quando houver paz no país! - e nada, mas nada surge de agradável para ser dito. A fazê-lo soaria a falso, a fabricação de última hora e eu não primo pela mascarada de sentimentos.
Tudo isto apenas para dizer que tem razão de ser a minha ausência do lado de cá do Mundo que é tão belo, tão exótico e era tão tranquilo! Tão tranquilo…
Não me sobra imaginação para transmitir a natureza mágica deste meu sofrido país! Minto: sobra-me ainda um pedacito. O suficiente para dizer que Timor-Leste é um dos últimos paraísos da Terra mas nós, timorenses, não temos capacidade para aguentar com a beleza que Deus colocou no nosso caminho e preferimos viver em conflito constante; um dia destes, quando acordarmos, teremos um inferno em vez de país!
Amanhã espero estar com melhor disposição!
sábado, julho 29, 2006
Amanhã espero estar com melhor disposição!
quarta-feira, julho 26, 2006
Melhores dias virão!
O atraso da minha presença ontem deve-se à falta de energia eléctrica. Eram seis horas da tarde quando ela, a energia, se finou por um período bem longo. Dezoito horas!!!
Afinal, se nós timorenses não acreditarmos no futuro risonho do nosso país, quem irá acreditar?
PS: amanhã acrescento a foto. Hoje, o computador deve ter enlouquecido e não me permite fazê-lo.
O mano Manuel está melhor
segunda-feira, julho 24, 2006
Domingo à tarde
Apesar do calor da tarde, eu e o João, meu marido, fizemo-nos a caminho e fomos à inauguração do Comité Olímpico Nacional de que é presidente o meu irmão João.
Gostei da cerimónia e senti-me muito orgulhosa ao ouvir falar o meu irmão.
É que a construção do país não se faz só pela via política nem vive só de estrelato. O João percebeu isso, o que talvez ainda o torne mais respeitado no campo político. E eu, naturalmente, fico feliz; mais palavras para quê, é um timorense e é meu irmão!
No regresso a casa demos com o sol a desaparecer na linha do horizonte. Ia a caminho das vossas bandas. A esta hora, embora aqui estejamos quase num pôr-do-sol de um outro dia, ainda dá para vos dizer, aos daí que acordam tarde, bom dia!
sábado, julho 22, 2006
De novo, Saudades!
Qualquer reunião familiar corre o risco de ser considerada uma festa.
Somos muitos, somos barulhentos, bem dispostos e adoramos conviver e conversar horas a fio. E mesmo quando o ambiente não é dos melhores – como acontece agora – temos de encontrar-nos para trocar impressões sobre a situação, sobre as nossas vidas.
Quando estávamos todos em Lisboa, logo a seguir a 1975, costumávamos reunir-nos no vale do Jamor, que acolheu os refugiados timorenses e onde vivia a mana Dora, a nossa irmã mais velha bem como alguns dos meus sobrinhos. Os meus outros irmãos refugiados viviam em pensões disponibilizadas pelo IARN.
Nessa altura, a vida era muito difícil. Mas nós, sempre tivemos um jeito especial para relativizar os nossos problemas… e, juntamente com os nossos pais (somávamos já mais de uma trintena em Lisboa) nunca perdemos o hábito que havíamos herdado da casa em Timor; aos domingos, reuníamo-nos para as conversas costumeiras e fazíamos a festa com um franganito, um arroz e um modo fila.
Dos doze irmãos, os manos Manuel e Mário eram os únicos que estavam em Timor e na Indonésia. Sentíamos a sua falta, até porque não era nada fácil saber deles. Os outros dez estavam em Portugal.
Mas desde 1956 que nunca mais nos juntámos na totalidade. E temos até uma fotografia dessa altura de que vos mostro uma cópia velhinha.
Escondemos do nosso pai a morte inexplicada e estranha do nosso sobrinho Marito, ocorrida em Jacarta.
A vida deu outras tantas voltas, faleceram os meus pais e a minha Dora. E nós fomo-nos espalhando por esse Mundo de Deus mas continuámos com o nosso velho hábito de nos juntarmos e conversarmos sobre os assuntos mais diversos. É bom dizer que, “filho de peixe sabe nadar” e nós não fugimos à regra: gostamos de falar alto, politicar, debater tudo, discutir e defender apaixonada, acalorada e convictamente as nossas opiniões.
Nunca perdemos o contacto. O meu irmão João criou uma linha na Internet para a família. Assim, estando ausentes, a milhares de quilómetros uns dos outros, todos sabemos o que se passa com cada um de nós.
Sei que a minha família que está fora de Timor, está a ler e a sorrir com as recordações que estas linhas lhes trazem.
Sei que ninguém esqueceu que, após as nossas longas e intermináveis conversas, precisamos sempre de qualquer coisa para aquecer o estômago. É da praxe. Pode ser um café. Pode estar calor ou frio. Mas lá qualquer coisinha para aquecer o estômago, retemperando porventura as nossas forças para mais uns dedos de conversa, isso é trigo limpo… tem de haver.
E podem ser duas, três horas da manhã, a dona-de-casa ausenta-se e aparece pouco tempo depois com uma panela fumegante. É o que nós chamamos”caldo”, com legumes (poucos), um pedacito de carne ou de chouriço, temperos diversos, por vezes uns ovitos batidos em espuma. Juro que aquece até a alma!
Foi o que fizemos ontem à noite aqui em casa.
Logo, jantaremos em casa da Natália. Não sei a que hora acabará a reunião familiar. Mas tenho a certeza de que não sairei da casa dela sem o meu estômago aconchegado por um caldinho quente!
quinta-feira, julho 20, 2006
Férias adiadas
Estava a pensar ir de férias em Setembro até Lisboa, matar saudades dos amigos e da cidade. Comprar uns livros, ver as modas, visitar as catedrais do consumo… Mas as aulas vão recomeçar em Setembro – o que é sinal de que as coisas estão a compor-se - e lá se vão as apetecidas férias! Paciência, fica para mais tarde.
Em todo o caso, vai fazer-me bem voltar a embrenhar-me nos estudos. Sinto falta de algo que me ocupe melhor o tempo. Vamos lá a ver se consigo concentrar-me! Se não houver mais percalços pelo caminho, quando fizer 60 anos, terei o curso completo. Bem, o melhor é nem pensar nisso. Ainda faltam cinco anos e eu não quero perder a vontade de estudar só de pensar que cinco anos são 365 dias vezes cinco… Mas é o que irá acontecer-me se começar a pensar que o curso-dura-cinco-anos. É muito tempo, caramba! Pronto: mais vale pensar em “um dia de cada vez”. Isso já resulta!
Todos os dias saio de casa. Passo pela marginal para ver o mar. O mar faz-me bem. Tranquiliza-me. Muitas das vezes bem me apetecia saltar do carro e meter-me na água. Mas, enfim, há que ter cautela. Impõe-se que seja cuidadosa!
Raios, nunca se pode ser absolutamente livre e espontânea!
Como quase sempre me apetece fazê-lo, vou visitando algumas capelinhas, que é como quem diz, vou a casa da minha irmã Natália, dos meus sobrinhos-netos, dos meus irmãos João, Mário e Manuel.
A propósito, o mano Manuel melhorou ligeiramente. Ainda não sai do quarto, sente-se um bocado cansado. Mas está melhor. Graças a Deus!
terça-feira, julho 18, 2006
O Tempo
Quando não há mais nada para se dizer fala-se do tempo… não é assim?
Pois, o tempo está mais agradável, menos quente, menos húmido. Bom para a praia, para um piquenique, para não nos esquecermos de como este é um belo país se olharmos as paisagens que mudam em cada curva de estrada.
Há “tempo para amar” e “tempo para morrer” . Eu quero ficar pela primeira hipótese! Depois daquela experiência em que me vi reduzida à mais ínfima condição da classe inferior do medo, os medricas, nem quero pensar em morrer que a vida é que é bonita e boa para amar… Quando há tempo, pois…
Tempo é pretexto para recordar que a maldita situação criada sabe-se lá por quem, não nos permite planear coisa nenhuma que ultrapasse os dez, quinze quilómetros em redor da cidade. Mais longe é melhor não, diz quem percebe dessas coisas.
Cheira-se no ar, pressente-se alguma coisa. Mas o quê? Eu já não cheiro nem pressinto nada de estranho, porque tudo está estranho, tudo mudou… nada é o que era dantes. Nem eu, que devido à situação criada, à insegurança, deixei de fazer as minhas caminhadas pelas seis da manhã, com a minha sobrinha Tininha e, como resultado, engordei, pois claro! Pois se o tempo, a situação, a crise, a insegurança, etc., etc., me não permitem derreter as calorias que vou somando o dia todo! Não consigo emagrecer! Raios!
O tempo, o tempo, o tempo… Uma vida!
Gazeta a metro!
Tenho andado a fazer alguma gazeta! É que nem sempre há disposição para escrever dois textos diferentes. Eu bem queria ser como o Marcelo Rebelo de Sousa que escreve em simultâneo e com as duas mãos dois textos totalmente diferentes conforme a mão de onde sai uma ou outra ideia … É obra, caramba! Queria mas, não sou… Há que ter noção da nossa importância no Mundo! Mesmo que o Mundos seja uma página do blog.
Estou mais descansada. O mano Manuel veio hoje para casa! Graças a Deus!
Politicamente, parece que as coisas estão a entrar nos eixos. Espero que seja para sempre! É que também estou um bocado farta de estar circunscrita à cidade que, ainda por cima, é o sítio mais feito de Timor!
Vamos a ver se este fim-de-semana podemos ir dar um mergulho, melhor, fazer um piquenique na praia dos portugueses, para lá do Cristo-Rei!
sábado, julho 15, 2006
Ainda o mano Manuel
O mano Manuel é um sedutor! Apesar das barbas brancas! Só isso explica que tenha havido mais comentários aqui no blog que o normal! Mas ele merece!
É um bocado criança, por vezes. E teimoso também. Hoje, queria baldar-se do hospital para vir tomar banho a casa! Ficou amuado porque os mécicos lhe fizeram cara feia. Nós respirámos fundo! Alguém o pôs em sentido!
Há semanas, quando Díli estava ao rubro, fez numa só noite, 150 quilómetros. Percorreu a cidade, procurando notícias dos milhentos amigos que tem espalhados pelos mais diversos bairros de Díli. Só depois de saber que todos estavam vivos, foi dormir...
O mano Manuel está melhor mas vai manter-se internado até que a tensão estabilize. Eu, deste canto, agradeço o carinho de todos, Transmiti-lhe os vossos desejos. Sorriu de orelha a orelha. Não disse, mas eu acho que ele queria mandar-vos um beijinho, às meninas, e um abraço ao Luís...
sexta-feira, julho 14, 2006
Mano Manuel
O meu irmão Manuel, o das longas barbas que aqui se vê recebendo comovido um abraço de um dos mais de cem afilhados, adoeceu. Está internado no hospital.
Como já dei conta do ambiente do hospital nacional no blogue do lado, o do Público, hoje fico-me por aqui.
Estamos todos preocupados com a saúde do nosso mais velho. Ninguém gosta de o ver acamado. E todos nós, os irmãos, netos, bisneto, sobrinhos, enfim todos os mais de duzentos seres que constituem a nossa vastíssima família espalhada por esse mundo de Deus, o que quer é que ele fique bom rapidamente!
Deus nos oiça e nos atenda depressa!
quarta-feira, julho 12, 2006
A anormalidade dos nossos dias normais
A vida tende a normalizar-se. Não é bem o normal a que estávamos habituados. Sempre há quem roube, quem queime, quem atire uma pedra…
Assim será por muito mais tempo.
Ontem, fez anos a minha irmã Aurete. Juntámo-nos vinte e duas pessoas à volta de um caril e de uma saborosa feijoada, mousse de chocolate, surpresa da Xana, bolo de aniversário… delícias que servem de pretexto para animada conversa. Tudo acompanhado de uma saborosa sangria.
Só que em cada 10 minutos de conversa, se meio minuto é conversa animada, tudo o mais se faz à volta da situação de crise… Fatal como o destino!
A noite terminou sem problemas, com cada um a recolher a casa nos vários cantos da cidade.
Mas, para que os homens e as mulheres se lembrem de que nada são favas contadas - nem a paz e a tranquilidade o são! - esta tarde, numa zona segura, lá para os lados da rua das embaixadas, partiram o vidro traseiro do carro do meu marido!
São assim, com acontecimentos destes que já nem são surpreendentes, os nossos dias normais…
terça-feira, julho 11, 2006
Casas de Lospalos
No tempo da ocupação, os indonésios esforçaram-se e quase conseguiram acabar com elas. Era preciso mostrar ao Mundo que Timor era desprovido de culutra, de identidade própria.
A exemplo das casas, também as gentes de Lospalos são altas, elegantes, bonitas.Dizem que vieram da Indochina. Outros defendem que são provenientes da Índia... Não sei donde vieram, mas que têm traços fisionómicos diferentes, lá isso têm...
Há poucas casas mas, depois da independência tem havido um esforço para as reabililtar. Só que agora já ninguém quer fazer delas a sua morada. É pena!
segunda-feira, julho 10, 2006
Engenho e Arte
Num passeio ao Suai, parámos no alto da montanha. A paisagem lindíssima que se vê daquela imponente e misteriosa montanha deixa sem fala qualquer ser humano. Só apetece ficar ali, em contemplação, à espera que o tempo passe devagar… que não se quebre o encanto!
Deve ter sido com a inspiração transmitida pelos fluidos da mãe Terra que esta criança, sem nada que não o engenho e a arte construiu esta engenhoca para ir buscar a água necessária para a sua cabana.
É em momentos desses que faço todos os bons propósitos para pôr de parte os gestos consumistas que tantas vezes me atacam e do qual não me importo nada ter de reconhecer que me cobrem de vergonha!
Afinal, com muito pouco, ou melhor, sem quase nada, uma criança sorri…
domingo, julho 09, 2006
Receios e distracção
Este é mais um fim-de-semana sem praia nem montanha.
Os tempos estão difíceis e, embora a informação oficial seja a de que tudo voltou ao normal, as pessoas ainda têm algum prurido em retornar à normalidade, passear para longe de casa.
Eu faço parte do grupo de medrosos. Bem, acho que não devia ter utilizado essa palavra. É um bocado forte e não é politicamente correcta! Vou substituí-la por receosos. Medo ou receio, estou atacada. Estou medrosa, receosa. Não vale a pena disfarçar! Mas, está bem: Faço parte do grupo dos receosos. Assim está mais leve. Não tão leve que me leve a dizer que estou na maior! Isso seria ainda menos politicamente correcto por ser uma boa treta!
Ainda por cima uma enxaqueca das antigas estragou-me o fim de tarde. Eu bem queria fazer como na semana passada. Ir com o João olhar o mar da Areia Branca, ver Díli do outro lado da cidade. E depois rumar a Taci Tolu. Ver o sol a pôr-se por detrás da ilha de Alor e olhar a cidade deste lado. Amanhã, se tudo correr bem, lá iremos. A Areia Branca e Taci Tolu estão dentro dos limites possíveis. Persistem porém, algum, pouco medo, algum, pouco receio… mas sempre dá para desanuviar. Talvez contribua para que eu não me distraia e coloque duas vezes a mesma foto no blog. Vou substituir a de antes de ontem.
sexta-feira, julho 07, 2006
Pronto! Perdemos! Eu sei.
Pronto! Perdemos! Eu sei. Mas perdemos injustamente. O árbitro roubou-nos de forma indecente!
Eu vi!
Nós jogámos melhor!!!
O golo deles nem sequer foi muito festejado. O Zidane nem saltou, nem correu desenfreado pelo campo… Falta de saltos, de gritos, sinal de que eles sabiam que não tinha havido penalty nenhum!
Eu vi!
Deu-me uma grande fúria, fui para a cozinha e desforrei-me com um papo-seco quentinho, acabadinho de cozer no forno. Com muita manteiga, porque o organismo estava a pedir. E quando o organismo pede…
Não se esqueceram que agora sou padeira amadora, pois não? Ainda não sou padeira de Aljubarrota… Mas ontem à noite, bem podia ter sido padeira-de-Aljubarrota-em-Munique. E vingar-me naquele árbitro suburbano e sem qualidade! E dar-lhe no coco! Bandido do árbitro!!!
Ao menos uma vez, tenho de escrever: Viva Portugal!
Daqui a quatro anos… esperem pela pancada!
quarta-feira, julho 05, 2006
Esquerda, Direita volver!
Casa típica do Suai, lá bem junto à fronteira com o Timor indonésio. Reparem no pormenor da decoração, com esteiras coloridas a enfeitar a casa e a dar também alguma privacidade aos seus moradores.
Hoje estava na disposição de contar uma grande história, mas o tempo urge. Vou ter de ajudar uma amiga, simpatizante da FRETILIN num trabalho urgente de escrita.
E isto dá-me de repente uma grande vontade de me rir, porque há quem pense que aqui, deste lado do Mundo - que é o vosso outro lado - os da oposição e os da FRETILIN nao se podem nem ver. Para além de que pensam que andamos todos à estalada!
Porque, se não andamos à pancada e aos insultos, se não viramos a cara ao do outro partido, estamos feitos uns com os outros, pela certa!
Fez-se luz! Então, eu estou feita convosco! Será???!!! Mas isso não é politicamnte correcto, pois não?
Ivonita, Leonor e Ana Cardoso Pires, está-me cá a parecer que um dia temos nós de andar à pancada! É que, não é por nada, mas vocês são muito de esquerda!
Bem, de vocês as três, tenho mais medo - confesso - da ginasticada Leonor...
Mas, então não é que reparei de repente que a maioria dos meus amigos é toda de esquerda!!! Pode lá ser!!!
Mas é verdade! Ele é o Paulo M., o Carlos P. o João R.A, mais duas outras Anas, o Agualusa, o Torcato S., o Jorge W., o Adelino, o António M. o Pedro C.R. entre tantos outros!...
Salvam-se a Anabela, que não é tão de esquerda e o João C. que não é nada de esquerda!!
Meu Deus! Estou perdida!
terça-feira, julho 04, 2006
Praia de Comoro
Em tempo de calmaria política, sem desordeiros e incendiários à solta, este era o meu destino, manhã cedo, pelas 6H30...
Como hoje foi um dia calmo, pode ser que seja um bom prenúncio para a tranquilidade que se deseja para Timor. Quero acreditar que os dias de calma voltarão em breve! Querem vir à praia?
domingo, julho 02, 2006
Futebol e flores
Não sou demasiado doente pelo futebol, mas não dispenso ver um bom jogo. Sei que o amor ao futebol levado ao extremo é doença grave! Bem, não sou delirante mas, se calhar, o melhor é assumir que sou um bocado doente… sofro naquela hora e meia que parece-durar-uma-eternidade, insulto o árbitro – acho sempre que ele está contra nós, aliás, acho que o Mundo está todo contra nós! – faço figas, levanto-me vezes sem conta, bebo água, enfim, essas milhentas coisas que os doentes do futebol fazem! Perde-se um bocado o tino, é verdade! Mas não me dá para bater em ninguém se perder o jogo! Eu sei ganhar e perder!
Estou de acordo que há coisas bem mais importantes que o futebol e que a vida continua independentemente do resultado de um jogo.
Quando era miúda, em casa dos meus pais, toda a família torcia pelo Benfica.
O meu pai, quando o Benfica perdia, era certo e sabido que dizia que o café estava mal feito! Essa doença ainda hoje nos ataca. Continuamos a discutir acaloradamente com os familiares que se nos juntaram pelo casamento e que são do Sporting, do Belenenses ou do Porto.
Se o futebol aliena, não é menos verdade que também distrai. Por exemplo, agora que a situação em Timor-Leste está da maneira que se sabe, com insegurança, saques, incêndios, tudo a acompanhar um longa crise político-militar que não aproveita nada nem ninguém, assistir a um jogo e torcer por uma equipa, ajuda-nos a esquecer - pelo menos durante o tempo que dura o jogo – a difícil situação que vivemos!
Mas se eu sou doente pela bola, também compreendo que haja quem não goste! E como ontem já tive uma prenda com os três penalties defendidos pelo Ricardo, hoje ofereço flores: envio estas flores aos meus amigos/amigas não-amantes do futebol, em especial para a minha querida e arredia amiga Ivone Ralha!
VIVA PORTUGAL!!!
sábado, julho 01, 2006
Saudades!
Quando eu era jovem, adorava ir à praia com as minhas irmãs e sobrinhos a que por vezes, também se juntavam algumas amigas escolhidas a dedo pelo crivo rigoroso dos nossos exigentes pais e irmãos mais velhos. Nas manhãs de domingo, aí pelas 8 horas, lá íamos nós, radiantes, gozar as delícias do mar azul, de águas quentes da praia de Lecidere.
Era só atravessar uma rua, mas a verdade é que não era muito do agrado do nosso pai a nossa ida à praia, pelo que nos habituámos a ser sempre acompanhadas por familiares ou amigas bem mais velhas.
Às vezes, como é natural em todos os jovens, a distracção tomava conta de nós, especialmente quando a conversa estava mais interessante. Bem, nós não usávamos relógio… O sol fazia as vezes desse incómodo objecto utilitário… Outras tantas vezes embora soubéssemos bem que eram horas de voltar, esticávamos o mais possível a permanência naquela praia e fazíamos ouvidos de mercador aos avisos dos mais velhos. Também não ignorávamos que havia castigo sempre que prevaricávamos…
Se havia coisa que os meus pais não perdoavam, era não estarmos todos sentados à mesa à hora da refeição.
Eu explico melhor. Penso que a nossa mãe é que não gostava nada das nossas ausências mas, porque era muito nervosa e viveu sempre cheia de mimo dado pelo nosso pai, entregava-lhe a dura tarefa de nos meter na ordem. E ele, que não permitia nenhuma falta de respeito à mamã, era sempre muito severo com as nossas alegadas faltas de educação à sua adoradíssima mulher e nossa santa mãe. Também acho que ele se fazia mais surdo para não ouvir as nossas asneiras e mais distraído para fingir não ver as nossas falhas… afinal, havia sempre alguém atento…
Bem, havia que preservar o espírito da coisa. A refeição era tempo de conversa, de alegria, de troca de impressões, de histórias, e eles não gostavam nada que uma qualquer alteração viesse pôr em causa a ordem determinada, com imposição de silêncio e de uma sensação de mal estar que durava , convém dizê-lo – uma horita ou duas, findo o que tudo voltava ao normal. Castigo, em primeiro lugar, gelado horas mais tarde para retornar à tranquilidade.
O almoço reunia a família toda em duas grandes mesas. Éramos muitos e por isso havia uma para os adultos, outra para as crianças. Feijoada era o prato de domingo. Muito arroz branco, muito modo fila. E muita algazarra como ruído de fundo. E, depois, de acordo com a época do ano, ananás, mangas, tomates arbóreos. E sempre, bananas e papaias. De seguida, uma chávena de café fechava com chave de ouro os almoços e os jantares na nossa casa.
Éramos uma família feliz. Apreciávamos a vida em comunidade. Adorávamos conversar, conviver.
Hoje, estamos espalhados pelos quatro quantos do Mundo. Cada um constituiu a sua família.
Aqui em Timor, em tempo de paz, ainda nos juntamos todos. E como continuamos a ser muitos, qualquer reunião familiar até tem o ar de festa.
Agora, com a crise, não há ambiente para grandes ajuntamentos. Mas mantemos o contacto através do telefone. Com os familiares que estão longe, em Portugal, Austrália, Estados Unidos da América ou Cabo Verde, usamos a Internet. Criámos uma linha especial para asseguramos o contacto essencial para não deixarmos esmorecer os nossos laços afectivos.
Tenho a certeza de que a seguinte expressão é comum a todos nós, irmãos e sobrinhos: Ai que saudades tenho da minha meninice e adolescência…