No último dia do ano pára-se um pedaço, reflecte-se sobre a vida e fazem-se bons propósito para o ano que vai chegar. É assim ano após ano; erramos, corrigimos..., voltamos a errar num claro sinal de que nem sempre aprendemos com os nossos erros… Mas, porque errar é humano, o que importa é recomeçar desejando sempre fazer mais e melhor. Às vezes até conseguimos! E se não conseguirmos, voltaremos a tentar!
E às vezes, tudo parece intrincado como os vários troncos desta árvore. Mas, veja-se, lá mais ao fundo, o Sol brilha!
No limiar de mais um ano, faço votos de que 2008 seja portador de tudo o que de bom haja e que cada um de nós deseje.
No fundo, no fundo o que queremos é ser felizes! Por isso aqui ficam os meus desejos de que o ano de 2008 traga uma mar de felicidade para todos! Felizes com paz, saúde e muito, muito amor!
segunda-feira, dezembro 31, 2007
terça-feira, dezembro 25, 2007
sábado, dezembro 01, 2007
quarta-feira, novembro 07, 2007
À minha filha Sandra Sofia
No azul do céu, por detrás da nuvem, do Sol, da Lua, das estrelas... No canto do pássaro, em cada amanhecer, no perfume da flor, por entre a ramagem das árvores, nas ondas do mar, no rumorejar da nascente, no sorriso de uma criança. Perto, distante... e sempre no meu coração vive suave, doce, rebelde, frágil, belíssima Sandra, minha princesa, milha filha...
Tanta saudade, Sandra Sofia!
quarta-feira, outubro 24, 2007
Quis o destino que o dia do seu nascimento fosse também o dia da sua partida para uma outra vida!
O nosso pai foi um grande homem. Marcou-nos para o resto da Vida. Não será demais dizer que o nosso pai burilou o nosso carácter. Ensinou-nos o valor de cada sentimento, a relatividade dos bens materiais e a capacidade de enfrentar qualquer dificuldade.
Com ele aprendemos a valorizar a família, a respeitar o próximo e a defender com honestidade as nossas convicções.
Amou profundamente a minha mãe, tratou-a com o máximo respeito e também por isso nos deixou como legado a certeza da igualdade homem-mulher.
Corajoso, determinado, leal, honesto, humilde, sábio e possuidor um coração do tamanho do Universo, assim era o nosso pai.
Os nossos pais fazem-nos falta. Quando vamos à Fazenda Algarve, sentimos que aquelas cadeiras onde o papá e a mamã se sentavam olhando-nos ou conversando connosco serão sempre as cadeiras deles. Não os vemos mas sabemos que estão lá. Lado a lado, como sempre estiveram enquanto foram vivos.
No dia em que passa o 106º aniversário do seu nascimento e o 30º da sua partida, um beijo para o meu pai.
sábado, outubro 13, 2007
Ainda não andei por lá, mas sei que é ali que se prepara o sal que não é tão salgado quanto o sal normal de Portugal ou da Austrália, por exemplo.
Da Costa da Caparica pergunta-me o amigo Luís quem era o homem que deu o nome ao Liceu.
O Dr. Francisco Vieira Machado foi um dos primeiros directores (ou gerentes) do BNU, o Banco Nacional Ultramarino de Díli. E enquanto cá esteve resolveu fundar o Liceu primeiramente denominado Dr. Vieira Machado.
Só o vi uma vez quando, passados muitos anos sobre a sua primeira estada em Timor, voltou no âmbito em visita de trabalho ao BNU. Era então um senhor de cabelos brancos e foi recebido com as honras devidas no Liceu. É só o que sei do fundador do liceu por onde passaram quase todos os grandes nomes da Resistência Timorense.
terça-feira, outubro 09, 2007
O Liceu Dr. Francisco Machado traz-me recordações felizes de um outro tempo,de quando apenas os dias luminosos da juventude e da vida de estudante eram ensombrados por nuvens cinzentas protadoras de uma nota negativa, uma falta disciplinar e o respectivo “castigo” em casa. Este último era bem pior porque ficávamos – eu e os meus irmãos – confinados ao espaço do quarto e impedidos de participar nas refeições e, consequentemente, nas conversas que, diariamente, juntavam a uma grande mesa, os pais, filhos e netos.
Hoje já cá não estão os pais nem a irmã mais velha e alguns netos partiram antes do seu tempo.
Dos tempos sem sombra de partida de ninguém bem como dos ausentes ficou-nos profunda saudade
E das reuniões do tipo assembleia geral de família ficou-nos o hábito do convívio familiar com conversas infindáveis sobre tudo o que nos apetecer discutir, em conversas que duram horas a fio entre uma chávena de café, uma banana frita, uma feijoada, muito riso,alguns momentos de reflexão, uns de euforia, outros de melancolia, outros de exaltação... tudo saudavelmente partilhado!
sexta-feira, outubro 05, 2007
À chegada a casa, qualquer que seja a hora e depois de uma efusiva recepção ao portão, os nossos seis ferozes guardas (para os forasteiros com más intenções, claro!) esperam-nos junto das escadas onde só sossegam depois de devidamente “cumprimentados” por nós. Festinha aqui, festinha ali e Dondoca, Piloto, Pé-de-Vento, Flecha, Liurai e Bainó, seis amigos leais, meigos e dóceis descansam depois, mantendo-se sempre de ouvido à escuta e ladrando ao primeiro sinal de movimento anormal nas proximidades do seu território.
terça-feira, outubro 02, 2007
Durante os anos da minha juventude o dia 1 de Outubro era dia de grande festa na casa dos meus pais. Juntavam-se os filhos, os netos, os amigos e a festa ia até às tantas… Hoje, é dia de saudade, de recordar a Mulher que é uma séria referência na nossa vida - minha e das minhas irmãs. Recordo a minha mãe que faria hoje 96 anos.
Do outro lado do Mundo, ela continua, estou certa, a zelar por todos nós. Hoje, como há muito tempo, um beijo para a minha mãe.
terça-feira, setembro 18, 2007
Perguntava a Ivone onde iria eu. Não, Ivonita, não fui a lado nenhum. Só não tenho tido tempo para postar.
Se tivesse cruzado os céus e fosse espairecer lá fora, veria Timor lá do alto assim como vos mostra a foto.
Nunca me canso de dizer quão belo é Timor-Leste e, sempre que vou a Bali ocorre-me sempre a frase de um amigo que dizia com certa graça que "Bali não bale nada ao pé de Timor".
Pois não! Só que eles, os balineses, têm juízo e tratam da vidinha. Nós, preferimos insultar, apedrejar, destruir, tratando da vida de outros...
terça-feira, setembro 11, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007
Não sou lá muito boa jardineira mas adoro olhar para o meu jardim e contemplar as flores, as dezenas de plantas de cores várias, as árvores em diversos tons de verde!
Tenho buganvílias, ibiscos, orquídeas selvagens, outras de jardim... e tenho um vaso com hortênsias, oferta dos meus sobrinhos Tininha e Hélder. Lindas! Não costumam dar-se em terras quentes mas as que tenho estão tão bonitas! Aprendi que são originárias da Ásia e que “As cores das flores de hortênsias variam conforme o pH do solo em que são cultivadas... Em solos alcalinos as flores tornam-se róseas.”
Quando olho para a variedade da vegetação, é impossível não a aliar à facilidade com que tudo nasce e cresce em Timor. Deita-se uma semente e daí a pouco está transformada numa bela planta!
Mas, se assim é com flores e plantas, o mesmo se passa também com os afectos e, infelizmente, também, com os ódios...
quarta-feira, agosto 22, 2007
Em momento de saudade de um grupo de amigas – Ivone, Anabela, Leonor, Ana C.P - e porque a distância não nos deixa conversar enquanto nos banqueteamos com os nossos petiscos, envio-lhes uma flor do meu jardim!
Não mata as saudades mas é a manifestação da minha amizade e sempre dá para descansar os olhos...
E respondendo à provocação da Anabela, acerca do vermelho, nem ponho os apelidos de duas das brilhantes amigas porque ninguém entenderia
segunda-feira, agosto 20, 2007
Há hábitos alimentares que não se perdem. Por exemplo, adoro acompanhar a comida com piri-priri. Aqui em Timor dá-se-lhe o nome de ai-manas e, à mesa do timorense, tem de haver sempre um pratinho com o dito cujo, pronto a ser colocado à beira do prato e, pouco a pouco, garfada a garfada, adicionado à comida.
Quem não gosta ou não está habituado acha que a comida perde sabor. Mas os amantes do ai-manas, fresco ou de conserva, garantem precisamente o contrário: o piri-piri realça o sabor da comida.
Gosto de ir ao meu quintal apanhá-lo fresquinho. Tem um sabor muito particular. Mas também gosto de ai-amanas com bilimbe (fruto muito ácido que nasce do tronco de uma árvore) ou limão em conserva, com muito alho e ruku (erva aromática do tipo do alecrim).
Sem ser para comer e salientar o sabor da comida, o piri-piri deveria servir
É que às vezes ouve-se tanta baboseira que só apetece encher-lhes (aos que tagarelam) a boca com piri-piri para os obrigar a manterem-se em silêncio, de boca fechada... pode bem ser que, pelo menos enquanto dura o efeito do picante, consigam reflectir, pensar antes de falar...
domingo, agosto 12, 2007
Ontem, dia dos seus 62 anos, só consegui falar-lhe já a noite ia bem alta.
O João é um homem que adora viver, mas esquece-se amiúde de que a saúde está em primeiro lugar!
A família está preocupada. Mesmo que, através do telefone, ele nos diga que está quase bom, andamos com o coração apertadinho porque conhecendo-o bem, sabemos que só mesmo sentindo-se muito doente se deixou internar...
A Rosinha, minha cunhada, amanhã já estará com ele. Acho que vai fazer-lhe bem ter a companhia da mulher!
Entretanto, aqui fica um beijinho para o meu irmão João, com a esperança de que a saúde volte depressa e o traga de novo a Timor...
terça-feira, agosto 07, 2007
Junto à praia de Bebonuk - de que já aqui postei uma fotografia - há este campo verde onde os moradores deixam o gado.
A mãe- búfala andava enamorada do filhotinho (que está encostado ao tronco do coqueiro), lambia-o, lançava-lhe o bafo quente para as suas constinhas, enchia-o de mimo, num umm, umm de mãe-búfala atenta e... apareço eu, de máquina em punho, a estragar aquele momento de intimidade, de ternura maternal!
A búfala não gostou, pois claro! E, vai daí, antes mesmo de disparar a foto, virou-me as costas, que é como quem diz, o rabo...
domingo, agosto 05, 2007
Tenho um jardim florido, arborizado, cuidadosamente tratado.
Estas flores, de que desconheço o nome, são provenientes da Austrália e dão-se lindamente em Díli. As suas pétalas, ou melhor, o néctar das suas pétalas, é sugado lá bem no fundo por abelhas pequenas e grandes que saltitam de pétala em pétala.
Com o ambiente tão amargo haja alguma criatura de Deus que viva a vida só com doçura!
quarta-feira, agosto 01, 2007
quinta-feira, julho 26, 2007
Faço parte daquele grupo de pessoas que gosta de rememorar momentos, amigos, situações... Tudo está tão intimamente ligado!
A Vida sem memórias deve ser muito vazia!
Há dias assim. Quando o céu se acinzenta de nuvens, é trigo limpo que a minha disposição também se transforma.
Umas vezes de angústia profunda de mão dada com a saudade de quem partiu mas continua viva no meu coração. E que angústia, que saudade me aperta o coração de cada vez que o pensamento me leva vezes sem fim à minha filha Sandra!
Outras tantas é a saudade dos amigos que desde há muito fazem parte do meu universo desde há muito, muito tempo...
E nessas alturas, que bom poder pegar no telefone e ligar para o outro lado do Mundo e matar as saudades!
segunda-feira, julho 23, 2007
Esta manhã atravessámos para o lado norte de Comoro. Nem parece que passou um ano, a praia de Bebonuk surge em todo o seu esplendor!
As crianças nem dão pela temperatura quente do areal, animadas com o jogo da bola, rindo descontraidamente. Um pouco mais atrás, mãe-búfala protege o filhote enquanto rumina a erva verdinhaque lhe serviu de refeição...
Uns quantos beiros sem pescador jazem na praia.
Tranquilidade, as ondas do mar batem ao de leve na areia como ao de leve sopra a brisa... Uummm, Timor! Tão belo!!! Tão paradisíaco!
E nós deliciámo-nos com um bom banho de mar, um sumo fresco de melancia e muita conversa com os jovens do bairro que fica por detrás do coqueiral.
A situação política, a vontade de trabalhar , a necessidade de paz e o futuro da Nação...
Esta noite, quando soube que havia problemas na cidade, falei de mim para mim " Não bate a bota com a perdigota..."
quinta-feira, julho 19, 2007
Em tempo de seca, a ribeira de Comoro não assusta ninguém. Está seca e a areia acumulada durante a época das chuvas é retirada do seu leito por algumas pessoas que fazem da apanha da areia o seu modo de vida.
Lá mais para baixo, próximo da foz - não se vê da foto - há uma ponte.
Antes da ponte construída no tempo da ocupação indonésia em substituição de uma outra do tempo português, no tempo das chuvas era uma emoção sempre que se queria passar para o outro lado e a ribeira não "dava" passagem, obrigando a que ficássemos retidos de um ou de outro lado da margem.
Eu e os meus irmãos adorávamos o que considerávamos ser uma verdadeira aventura! Hoje, tudo é diferente. E a água que enche a ribeira de margem a margem passa veloz, rumo ao mar, sem ninguém lhe achar a miníma piada! É como na Vida. Há quem passe por ela sem a saborear...
segunda-feira, julho 16, 2007
domingo, julho 15, 2007
Durante muitos anos, obriguei-me a rigorosa contenção em tudo quanto dizia respeito a Timor ocupado. Por óbvias razões.
Com a independência, pensei que esse mau bocado fazia definitivamente parte de um passado bem enterrado. Mas eis-me, em 2007, obrigada a novo exercício de contenção.
No blog do lado, escrevi que o silêncio é de ouro. E eu, que tanto gosto da palavra, arrumei-a num canto, não fosse ser tentada a deixar que os dedos deslizassem pelo teclado e escolhessem inadvertidamente letras que formassem palavras e estas transmitissem ideias que pudessem provocar reacções desagradáveis a quem delas não gostasse...
Por isso tenho mantido prudente contenção.
Só que, às vezes, dá-me cá uma vontade de desbobinar o que sinto que nem se faz ideia!
Em todo o caso, mais vale manter a contenção. A situação continua a exigir que todos tenhamos os pés bem assentes na terra e a cabeça no lugar.
Vou fazer por isso!
terça-feira, junho 19, 2007
…Quando a tristeza me invade, canto o fado
Se me atormenta a saudade, canto o fado…
Gosto de Fado mas não, não vou cantar o fado porque, se o fizesse, cairiam canivetes do céu!!!
Invadida por saudade profunda e sentida, dorida por avassaladora tristeza sem razão concreta, antes que me angustie ainda mais por não conseguir elevar aos céus o meu canto com vontade de espantar os meus males, faço o que sempre me obrigo fazer: necessária pausa.
Amanhã será outro dia e se a noite é escura e de breu apesar da lua e das estrelas, amanhã o sol voltará a nascer luminoso.
Boa conselheira, a noite far-me-á cantar para dentro de mim, dormir sobre a tristeza e espantar a saudade; amanhã, com certeza, acordarei mais solta, mais leve, a caminho da cura da minha alma hoje atormentada.
sábado, junho 16, 2007
Que pena o tempo não ser elástico!
Há muito, muito tempo que não ponho os pés na água morna de uma qualquer praia de Timor. A situação não ajuda e o tempo não dá para tudo...
Passei uma semana a estudar o que deveria ter estudado em três meses.
Senti-me mal, confesso. Porque estava consciente de que era capaz de fazer melhor, não fosse ter de me desdobrar em um sem número de actividades que me tiraram o tempo necessário para o estudo.
Não vale a pena esticar! O Tempo não é elástico! Pois não! Não tentei esticá-lo; mas tentei , numa semana , apreender tudo o que lia... não resultou em pleno mas ajudou e consegui! Passei. Intimamente fazendo o bom propósito de não voltar a repetir o que fiz.
No dia 10 de Setembro começam as aulas. Felizmente, só irá haver eleições daqui a quatro anos! Até lá, sobrar-me-á tempo para trabalhar, estudar e divertir-me. E pode até ser que a calma volte e eu possa ir dar um pé de dança com o João!
quarta-feira, junho 06, 2007
Não gosto muito de expor a minha família e menos ainda de falar dos meus pais que partiram desta Vida há muitos anos, porque não quero correr o risco de que surja alguma palavra desagradável contra eles e eu, que não vejo a cara de quem pode desferir a má palavra, não me sinto à vontade para responder enfrentando quem está, invisível, do lado de lá para os defender – como é, aliás, minha obrigação – a eles que já não fazem parte desta vida.
Mas, hoje, não resisto a fazê-lo.
Esta tarde, quando tive de dizer alguma coisa sobre a intervenção da mulher timorense na política e, de uma forma geral, na vida pública, não pude deixar de recordar a minha Mãe com justificado orgulho pelo exemplo que nos deixou, a todos, filhos e filhas!
A minha mãe era uma senhora. Impunha-se pelo porte altivo, normal nas mulheres de Leste. Dela guardo a imagem de mulher determinada, segura, calma, discreta e independente.
Gostei de poder recordar a sua assumida independência. Gostei muito, senti-me inundar de indisfarçável orgulho pelo facto de ela, a minha mãe nascida em Watalibu, Venilale, nunca ter tido necessidade de renunciar à sua cultura local, às suas raízes, só por ter casado com o meu pai, malai mutin do Algarve. Foi bom recordar o português muito peculiar que a minha mãe falava aprendido apenas quando foi viver com o meu pai.
Soube-me bem evocar os bons guisados e caldeiradas de cabrito que ela preparava como ninguém, aprendendo a arte da cozinha portuguesa com o meu pai, ao mesmo tempo que fazia as catupas, as cadacas, os batar daan à moda timorense…
Gostei de partilhar a história de ela ter tido 14 filhos, os mais velhos dos quais chegaram a este mundo com a ajuda do meu pai que assistia aos partos.
Soube-me bem, muito bem, dizer que a minha mãe tanto se sentia à vontade a tratar da sua horta onde trabalhava mano a mano com os empregados, como numa festa formal do palácio do governo onde as demais senhoras se admiravam que aquela mulher vinda de recônditas paragens de Timor soubesse acompanhar tão bem o meu pai!
Claro que as senhoras não podiam adivinhar que, entre o meu pai e a minha mãe, não havia a obrigatória submissão da mulher ao homem… os meus pais acompanhavam-se mutuamente, andavam lado a lado, tinham os mesmos direitos e as mesmas obrigações! Faziam uma excelente equipa e, por isso, nunca nos ocorreu, a nós, mulheres, pensarmos que éramos menos hierarquizadas na família relativamente aos meus irmãos apenas por sermos mulheres!
Pelo contrário. Desde sempre soubemos que éramos iguais, independentemente do sexo! Tivemos a mesma educação, as mesmas facilidades e iguais dificuldades, o mesmo carinho e, obviamente, éramos igualmente castigados.
Saí do encontro com o meu ego muito acarinhado mas, ao mesmo tempo, cheia de saudades dos meus velhos pais. Uma saudade imensa que perdura não só porque os filhos têm sempre saudades dos pais quando estes desaparecem mas também pela referência que são nas nossas vidas. Deixaram-nos um legado inestimável, princípios, ensinaram-nos a agir sempre com simplicidade, determinação e correcção, a sermos leais, honestos e humildes. A não termos medo de defender as nossas ideias, a não desistir, a respeitar o próximo como a nós mesmos, a sermos solidários!
E antes que uma lágrima que sinto a bailar nos olhos me venha dificultar a escrita, termino enviando para o além longínquo onde eu sei que ambos continuam estando atentos às nossas vidas um grande e saudoso beijo ao meu pai e à minha mãe! Melhor, um beijo ao papá e à mamã!
domingo, maio 27, 2007
Um dos sonhos da minha juventude era viver numa casa de Lospalos. Claro que não pensava sequer que era necessário ter ligeireza suficiente para subir e descer a escada sempre que fosse preciso.
Só me imaginava lá em cima, segura, olhando o Mundo, reflectindo, contemplando, sonhando! Tanta coisa que me passava pela cabeça!
Agora que “já sou velhinha”, - sim, eu sei, não preciso exagerar… - continuo a gostar de casas de Lospalos que acho belas, elegantes, altaneiras… mas fico-me por aí…
O pé já não é tão ligeiro e a balança está avariada, de certeza!, porque acusa uns muitos quilos a mais dos que eu tinha noutros tempos…
Hoje prefiro ter os pés bem assentes na terra, mas não deixei de contemplar, olhar o Mundo, reflectir… E o sonho? Claro que continuo a sonhar, faço-o acordada, vezes sem conta! Liberta de angústias, crio asas e vou voando por aí onde me leva o pensamento!
sexta-feira, maio 25, 2007
Não me lembro se já publiquei ou não esta foto. Mas, sendo ela ilustrativa de que é possível, em Timor-Leste, ser tão transparente como as límpidas águas do mar, presumo que ninguém se importará com a repetição...
Através desta foto também se percebe que há pé até bem longe da praia. Isto explica a razão pela qual nunca aprendi a nadar... O que também não abona nada em meu favor, reconheço, porque, mesmo garota, tinha obrigação de ver mais longe e saber da profundeza do mar...
Também posso arranjar outra explicação para o facto de não saber nadar. É uma desculpa esfarrapada mas deve dar para aliviar a minha frustração...
Então, é assim: recordando que o nosso pai não gostava muito que as meninas mais novas da sua extensa prole - Gabriela, eu e Natália - andássemos fora de casa por muito tempo, tínhamos de estar ao pé da praia de forma a ouvir quem nos viesse lembrar que eram horas de voltar para casa... Se eu soubesse nadar, ia para bem longe, não ouvia chamamento nenhum e arriscava-me a levar umas palmadas no rabiosque.
Claro que é mesmo uma explicação esfarrapada porque, mesmo estando por perto, às vezes fazíamo-nos surdas, mudas e cegas! Aconteceu um dia qe, mesmo estando sentadas no areal da praia de Lecidere, fizemos de conta que não víamos nem ouvíamos o pobre do Paulo que repetia vezes sem conta serem horas do almoço, etc, etc..,
Estávamos a conversar tão animadamente que não nos apetecia nada voltar para casa... Fizemo-nos desobedientes e convencemo-nos de que já éramos independentes; só voltámos quando nos apeteceu, sem nos preocuparmos sequer que havia uma família inteira que queria almoçar e não o podia fazer en quanto todos não estivessem à mesa.
Na varanda, a senhora nossa mãe estava sentada fazendo de conta que não era nada com ela. O nosso pai lia, ou fingia ler, o jornal, creio que o Diário Popular que chegava semanalmente de Portugal
Mal nos viu, retirou o relógio do pulso para não nos magoar... Percebemos o que ia acontecer e pusemo-nos a jeito. Nós, as três mais novas, perfilámo-nos e cada uma de nós levou à vez uma palmada no rabo!
Doeu, oh se doeu! Chorámos que nem Madalena arrependida!
Mas o nosso pai deve entretanto ter-se recordado dos seus arroubos da juventude e, como prova de que já tudo tinha passado, mal viu passar o António vendedor de gelados da casa Vitória, adoçou-nos a boca e refrescou-nos os ânimos com uns quantos gelados fresquinhos...
quarta-feira, maio 23, 2007
domingo, maio 20, 2007
quinta-feira, maio 17, 2007
Pose vaidosa de Dondoca, cadelinha cor de mel, delambida, conquistadora…
Lá mais atrás, os cães olham-na do canto do olho… qual deles conseguirá a atenção da delambida Dondoca?
Dondoca rebola, levanta-se, ensaia uma aproximação, percebe que “são muitos cães a uma cadela” e arrepende-se. Vira-lhes as costas, afasta-se e deixa o Liurai lambendo o Pé-de-Vento…
Tudo ficou bem e esquecido até que a Dondoca entrou de novo no cio.
E não houve pose, nem sedução, nem lambidela. Menos ainda fotografia.
Tanto cão! Selvagens! Dondoca assusta-se, foge, esconde-se debaixo da mesa. E os muitos cães a uma cadela, perdidos de desejo, frustradas as expectativas de macho melhor entre os melhores, ladram furiosamente, atacam-se, ferem-se, uivam de dor, assustam os cahorrinhos e metem o rabo entre as pernas quando, farta de tanto barulho, resolvo dar-lhes um banho de água bem fria para lhes esfriar os ânimos e fazê-los cair na real!
Caramba, até a cadelinha Dondoca precisa de elegância na investida!
segunda-feira, maio 14, 2007
Uma das três lagoas de Taci Tolu e a casa típica ao fundo que deu guarida ao Papa João Paulo II quando visitou Timor em Outubro de 1989.
Mais tarde, em 2002, foi neste espaço que se realizaram os festejos da independência.
Já no tempo da independência, ali se deu o “milagre” com intervenção de mão humana do “aparecimento” de Nossa Senhora…
Não sei se por uma se por outra razão, ou pelas duas razões – sem contar com o milagre que deixou de o ser uns dias depois da ocorrência -, Xanana Gusmão pretendia que aqui nascesse o jardim da paz.
Em seu lugar ainda só existem ervas daninhas que são o alimento dos cabritos que ali andam à solta, corridas de motos e pares de namorados.
A casa típica está deteriorada. E o marco com o nome de João Paulo II desapreceu.
Mas, enfim, há que ser generoso e procurar entender. Afinal, sem paz, não podia haver jardim do mesmo. Pode ser que seja agora…
domingo, maio 13, 2007
Tebe numa noite de luar
de MGabriela Carrascalão
Dili, Março de 2003
Loi Sa’e
é aparição
donzela dengosa
Vaidosa!
o monte desce
silhueta ondulante,
a lua ilumina
é convite para o amor!
O batuque grita
de ritmo marcante....
mais alto...
Loi Sa’e geme ...
o mancebo encanta
Dança !...
ao ritmo do batuque
Loi Sa’e, luz da lua
toda ela se mexe ,
é o eco do bamboleio
seu corpo serpenteando...
é som do roçar dos tais
xiu! xiu! assa xiu ! assa xiu!
Loi Sa’e, luz da lua
Dos suspiros em ais!
Loi Sa’e....
O mancebo desafia
dança seu corpo
serpente sensual...
seus seios acaricia ...
ao ritmo do batuque
Loi Sa’e!
À luz da lua
O mancebo espia
donzela dengosa !
Tebe à luz do luar!
É noite para amar!....
PS: A minha irmã Maria Gabriela é uma excelente pintora e jornalista.
Há uma série de anos que anda a prometer tornar públicos os seus poemas. Será desta?
Em estreia mundial, aqui fica um dos quadros pintados em Timor em 2003 e um belo poema! Beijinhos para a minha mana pintora-poeta!
sábado, maio 05, 2007
Estarei a sonhar demasiado cor-de-rosa? Estarei a ser ingénua?
Tenho para mim que vale a pena sonhar... vou continuar...
quarta-feira, maio 02, 2007
Um dos meus sonhos prende-se com a construção de uma casita típica em Venilale, a terra da minha mãe. Os campos são assim verdes... O clima é temperado, corre sempre uma brisa suave, fresca...
Em Venilale, no sítio de Waitalibu, todos falam, ainda hoje, do grande amor entre o meu pai e a minha mãe! Um amor sem barreiras de mais de cinquenta anos a que só a morte pôs fim...
quarta-feira, abril 25, 2007
O mar está aqui, a dois passos, oferece-se de bandeja, a qualquer momento a todos nós. Mar azul, por vezes esverdeado . Mar profundo lá bem ao longe da praia, de águas límpidas, mornas... Um regalo para os nossos olhos, para os nossos sentidos. O problema é que há tanta outra coisa menos bela, menos transparente, a precisar que tenhamos os sentidos todos alerta! Quem pode, pois, quedar-se em serena contemplação e deleite da Natureza?
Mas, porque o Sol brilha, os pássaros cantam e as crianças riem e brincam despreocupadamente, é bom que inspiremos fundo e passemos a acreditar que as coisas vão mudar. Têm de mudar! Para melhor, claro. Porque, como diz a canção "pr´a pior já basta assim..."
domingo, abril 15, 2007
Quando andamos pelas estradas percorrendo o país em todas as direcções, é inevitável que nos perguntemos amiúde a razão pela qual não conseguimos viver tranquilamente, gozando as maravilhas que Deus nos deu, em cada curva, em cada canto da estrada.
Timor é realmente muito bonito. As cores, as montanhas inacessíveis, as planícies , o mar, tudo isso é Timor. À frente dos nossos olhos. À nossa mercê. Era só esforçarmo-nos um pedacinho, trabalhar q.b. e estaríamos a fazer de Timor-Leste um país de sonho.
Mas não, preferimos andar uns contra os outros, meio mundo enganando outro meio mundo. E nesse afã de destruição do outro -que é tão só o nosso próximo! - , nem sequer temos tempo para parar, admirar, deleitarmo-nos com a dádiva divina que é Timor-Leste!
segunda-feira, março 19, 2007
Eu bem queria que o tempo fosse elástico!
Mas, não sendo, que remédio haverá senão fazer o que o tempo nos permite?
Também queria ter o dom de resolver tudo com um simples estalar de dedos... mas, não tendo, nada mais farei senão reduzir-me à minha condição humana e resolver as coisas uma a uma, devagar, de acordo com o tempo que tenho... Hoje tive tempo para fotografar o meu jardim, bem mais verde por causa das chuvas! Valeu a pena!
segunda-feira, março 12, 2007
Há pouco telefonei à minha amiga Ana do Castelo que faz hoje anos. Hoje, dia 11, aí em Lisboa, porque para mim, fez ontem. Aqui em Timor já passámos umas quantas horas sobre o início do dia 12.
Não sei como terá sido o dia do seu aniversário, agora que ela deixou de trabalhar e que a crise económica se mantém em Portugal.
Se eu fosse a Ana, dava uma prenda a mim mesma e aproveitava para descansar o máximo dos mais de trinta anos de correria casa-trabalho-casa…
A Ana tem dias. Nuns, está muito bem disposta. Noutros, é melhor nem falar com ela, absorta que fica com os seus pensamentos, pensando nos problemas e procurando interiormente a melhor de resolver estes.
Agora, esquece lá os problemas e mantém-te bem disposta. Conta anedotas, telefona-me que eu gosto muito de saber notícias tuas e visita meio mundo para te distraíres. Mas, com a distracção não comas demasiados doces! Cuidado com a linha!!!
Beijinhos
quinta-feira, março 08, 2007
Quando esta foto foi tirada, eu estava –ainda! – convicta da vitória dos timorenses sobre a pobreza, a corrupção, a miséria, o analfabetismo, a arrogância, a injustiça, a mentira … Acreditava na unidade, na boa vontade, no esforço comum da reconstrução…
Achava que tudo o que era mau não passava de sequelas da ocupação…
E daí o quase ostensivo sinal de vitória com ambas as mãos levantadas!
Raios, como me chateia de ter engolir ter-me enganado tanto!
terça-feira, março 06, 2007
quinta-feira, março 01, 2007
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
terça-feira, fevereiro 20, 2007
Uma das vezes em que andei a passear pelo leste do país – quando fazia parte do programa de fim-de-semana viajar pelo país para melhor o conhecer -, passei por Klalerek Mutin, uma aldeia minúscula, pouco populosa. Ali houve um massacre nos tempos da ocupação indonésia, tendo morrido a quase totalidade das pessoas.
Ps: Não há nada como ter leitores bem informados e cultos. Obrigada, Augusto Lança, pelo rigor. É mesmo um akadiro!
sábado, fevereiro 17, 2007
A praia é linda, a água recomenda-se. Era assim em 2004 quando a foto foi tirada. Deve continuar tudo igual.
Eu é que não vou à praia, nem aqui em Díli nem fora da cidade, há quase um ano! O tempo que dura a insegurança.
Bem, tristezas não pagam dívidas e, o melhor, é deixar o olhar preso à paisagem ainda que através de fotografia… É pouco, quase nada mas, nas actuais circunstâncias, é o que se pode arranjar.
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Chove a cântaros e o barulho da água a bater no telhado de zinco a que se junta o ruído dos trovões é ensurdecedor.
Apesar do barulho, a água que cai con tanta força provoca uma sensação agradável, porque diminui o calor característico desta época do ano, a poeira desaparece e as plantas tornam-se mais verdes.
Quando eu era mais catraia, eu e os meus três irmãos mais novos, Quico, Gabriela e Natália e os nossos sobrinhos mais velhos, adorávamos andar à chuva. Ficávamos molhadinhos que nem uns pintos mas, enquanto a chuva caía ninguém nos apanhava em casa, entretidos que andávamos com a paródia que, por vezes, também podia acontecer na praia. É óptimo estar no mar ao mesmo tempo que chove!
Não me lembro, de nessa altura, algum de nós apanhar um resfriado ou adoecer da garganta... Mas, se fosse hoje, em que a idade é outra (bela maneira de admitir que estamos a caminho da terceira idade, não é?) era trigo limpo que, umas horitas depois, haveríamos de estar com 40º de febre...
Ai, como o tempo passa!